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“Vidas Perdidas” (Quetzal Editores, 2014), do norte-americano Nelson Algren (1909-1981), é uma dessas bombas-relógio agarrada a um cronómetro pintado de negro, à espera de deflagrar nas mãos do leitor muito perto do último virar de página.
Dove Linkhorn, um ingénuo rapaz nascido na pacatez do campo, é o Ulisses de uma Odisseia que tem como pano de fundo a Grande Depressão Americana. Membro de uma família liderada por um ex-pastor doido – «perder a sua senhora foi o que deu com ele em maluco» – e alcoólico e um irmão constantemente de bolsos vazios, Dove foge de casa aos dezasseis anos, rumando a Nova Orleães em busca de uma vida melhor.
Escrito em 1956, “Vidas Perdidas” mostra um retrato social devastador de uma América em frangalhos, em que o promotor de venda porta a porta se tornou a espinha dorsal da economia americana que parecia viver sob um estranho – e estranhamente actual – lema: «Autoconfiança para os sem-cheta e apoio governamental para os que já tinham mais do que aquilo que podiam gastar, esse era o plano.»
Pedro Miguel Silva, Rua de Baixo