«A semana será de festa em Portugal. Passam 40 anos sobre o 25 de Abril, o golpe militar que terminou com a ditadura de Marcello Caetano.
Mas no momento de festa, inteiramente merecido, uma pergunta nunca deixou de me ocupar - e envergonhar: como foi possível a um país da Europa suportar a mais longa ditadura do século 20, quase meio século, até ao momento em que a putrefacção interna e a guerra colonial externa a fez desabar sob os tanques pacíficos dos capitães?
Uma boa resposta está em J. Rentes de Carvalho e no livro "Portugal, a Flor e a Foice" (Quetzal, 238 págs.). Sim, o nome talvez não seja conhecido entre o público brasileiro (uma lástima). Curiosamente, também não o era entre o público português: nascido em 1930, exilado na Holanda, autor de romances, diários, crónicas e prosa biográfica vária, Rentes de Carvalho, vivo e activo, é um dos melhores prosadores da língua lusa. Mas não custa perceber por que motivo um estilista como Rentes foi "persona non grata" entre a intelectualidade nativa, habitando o silêncio da indiferença durante grande parte da sua carreira.»
João Pereira Coutinho na sua coluna da Folha de São Paulo