"Este livro está dividido em duas partes: “Partidas” e “Chegadas”. Há uma viagem pela palavra, por lugares, talvez uma viagem dentro de ti. Fala-nos dela.
A minha poesia é muito biográfica, muito geográfica, é uma poesia do espaço e do tempo. Nestes poemas, como noutros, tentei parar para reaprender a olhar, tentei re-parar (repetir a paragem). Os poemas da primeira parte trazem valores universais como a beleza, a arte, o tempo, a história, a memória, a tradição, o amor, o desejo, a amizade, e esses situei-os, não por acaso, numa geografia europeia. Na segunda parte verifica-se um regresso à prosa dos dias (Manuel António Pina), à forma como a realidade se nos impõe num quotidiano menos abstracto, mais concreto, onde os valores são necessariamente outros, não são necessariamente melhores. Esses poemas situei-os em Portugal, o que faz deste livro, talvez, o meu livro mais político.
A dada altura, em “Chegadas”, surge um poema intitulado “Poeta marca território”. Como gostarias que a tua poesia marcasse para além de ti?
Como acontece com os gatos (“os gatos são poesia, os cães são prosa”), acontece-me marcar o território lá em casa com tinta de caneta, nos lençóis, nos sofás, nos tapetes, para desalento de quem deles cuida… É difícil responder. Seguramente que gostaria que algum poema ficasse. Não acredito verdadeiramente que se possa prever como um poema vai ser lido uma, duas gerações depois. A minha ocupação é publicar poemas com os quais me identifico na altura em que os escrevo, tanto quanto no período de tempo (2, 3 anos) em que decorre o processo de selecção e revisão, até saírem em livro. Se vencerem esse teste do tempo, autorizo-me a acreditar neles. Caso contrário, elimino-os. Desconheço se isso é suficiente para a poesia deixar marca mas se em cada um deles tentar “make it new”, como defendia Pound, já será um bom princípio…"
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