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Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.
«Um bom texto é como o sexo. Se está a ser bom, ninguém quer que acabe depressa.»
A edição de hoje do i dedica duas páginas sobre o livro Os Suicidas do Fim do Mundo, incluindo-se neste trabalho da jornalista Sílvia Caneco uma pequena entrevista à autora onde se fala do jornalismo literário que se pratica hoje.
Depois da entrevista, Paulo Moura já disponibilizou no seu Repórter à Solta o texto sobre Os Suicidas do Fim do Mundo, um “romance” de não-ficção, como lhe chamou.
«As pessoas sempre hão-de gostar de uma boa história e não se importam que seja longa. É como o sexo. Se for bom, ninguém vai querer que acabe logo.»
Paulo Moura falou com Leila Guerriero em Matosinhos, a propósito de Os Suicidas do Fim do Mundo. Talento desperdiçado fora da ficção, a sedução das boas histórias - eis alguns dos tópicos de conversa com esta autora que acredita no poder da realidade.
Dos lados, em cima, em baixo, não havia nada. Nem pássaros, nem ovelhas, nem casas, nem cavalos. Nada que pudesse chamar-se vivo, novo, velho, doente. Só havia aquilo - deserto puro -, os êmbolos do petróleo com o seu cabecear triste, e o barulho de uma garrafa que andava de um lado para o outro no corredor e que ninguém - nem eu - se dava ao trabalho de apanhar. Não éramos mais de cinco passageiros, o motorista impávido e um pouco de música.
De Os Suicidas do Fim do Mundo, de Leila Guerriero.
Patagónia, fim dos anos 1990. Uma onda de suicídios conternou Las Heras, uma pequena povoação-fantasma, perdida no vasto Sul argentino, outrora florescente, antes da privatização do petróleo. Todos os suicidas tinham cerca de vinte e cinco anos e eram membros bem integrados na comunidade: filhos de famílias modestas, mas tradicionais. Muito estranho também é que nunca tenha sido feita uma lista oficial dos mortos.
Leila Guerriero viajou até àquelas paragens, interrogando familiares e amigos, percorrendo as mesmas ruas que esses jovens haviam percorrido, e visitando cada recando do pueblo. Daí resultou um relato descarnado e preciso, que não só reconstrói os acontecimentos trágicos desses anos, como também traça um retrato magnífico do quotidiano de uma povoação afastada dos grandes centros urbanos- Las Heras, com o seu desemprego maciço e a falta de futuro para os mais jovens, constitui ainda um enigma sem resolução: os suicídios, qual destino funesto, sucedem-se até hoje.
Os Suicidas do Fim do Mundo é uma crónica inquietante que se lê com o fascínio que nos suscitam alguns romances, e que revela uma realidade marcada pelo horror, pelos preconceitos e pela indiferença.
Os Suicidas do Fim do Mundo, de Leila Guerriero | série américas
Nas livrarias a 3 de Abril.
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