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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

Desde a sua estreia em Portugal, com a publicação de Somos o Esquecimento que Seremos, que o colombiano Héctor Abad Faciolince se tornou um autor de culto para os leitores portugueses.

 

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No Expresso, na altura da publicação daquele livro, Vítor Quelhas escreveu: «O livro, de enorme lucidez, beleza e ternura, embora seja um objecto literário de difícil classificação, dado que subverte as fronteiras de géneros, como o romance, o ensaio, o testemunho ou a crónica - hibridação do romance contemporâneo? - superou as expectativas do autor (14 edições só na Colômbia) e dos editores que o publicaram por esse mundo fora.»

No Jornal de Negócios, Fernando Sobral também se rendeu à qualidade de Somos o Esquecimento que Seremos: «Há livros que são um ajuste de contas com o passado. E há outros, mais atraentes, que são, no meio da crueldade envolvente, um hino às memórias da calma e do amor no meio da raiva. Este é um desses empolgantes livros.»

No seu blogue, Teatro Anatómico, o escritor Manuel Jorge Marmelo recomendava-o aos leitores: «Vale absolutamente a pena.»

Sara Figueiredo Costa escreveu na Time Out que Somos o Esquecimento que Seremos é um «livro tão comovente como lúcido».

 

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Numa das muitas entrevistas à imprensa nacional, Faciolince explicou ao Jornal de Letras quando é que sentiu necessidade de escrever sobre a vida do seu pai, assassinado na década de 80 pelos paramilitares: «Não sei se foi assim que mataram o meu pai, porque nesse momento só se sente dor e desespero. Mas uns anos depois, quando comecei a ser escritor, apercebi-me que tinha de contar a sua história. Procurei fazê-lo nos meus primeiros romances, em capítulos muito estranhos que saíam da ordem natural do livro e que os editores eliminavam. Tentei, com as armas da ficção, durante mais de duas décadas, mas nunca consegui. Só encontrei o caminho certo ao ler Léxico Familiar, de Natalia Ginzburg, que também é a história de uma família, escrita numa linguagem muito simples. Depois de fracassar de tantas formas, entendi que bastava usar a linguagem da minha família. Nessa altura, só o facto de mudar o nome das pessoas, como pensava fazer antes, soava-me a falsificação. Percebi que a história tinha uma força estética superior a qualquer invenção. Contudo, levei tempo a escrevê-la. Há vários episódios dolorosos e facilmente começava a chorar. A literatura não pode ser feita só com sentimentos, tem de haver um controlo. A ferida teve de cicatrizar primeiro.»

Quatro anos depois, a Quetzal publicou Os Dias de Davanzati [Basura, no original] e José Mário Silva, no Expresso, preparou os leitores para um livro muito diferente: «Os ecos das suas empolgantes intervenções nas Correntes, ou talvez o efeito boca a boca, fizeram do livro um inesperado êxito de vendas – inesperado mas justíssimo. Três anos depois, é provável que alguns desses leitores ganhos por Faciolince se desiludam com Os Dias de Davanzati [livro originalmente publicado em 2000, ou seja, antes de Somos o Esquecimento que Seremos], não porque o romance seja de deitar fora, mas porque está uns bons furos abaixo da qualidade revelada [no livro anterior].» Mas o próprio Héctor Abad Faciolince vive bem com o facto de Somos o Esquecimento que Seremos praticamente eclipsar os outros livros: «Não me incomoda [que falem sempre de Somos o Esquecimento…], mas é curioso. É como se tivesses dez filhos e toda a gente só te falasse de um deles. Claro que é o meu filho com mais sucesso, o que tirou um doutoramento, mas os outros também andam por aí», disse ao jornal Clarín.

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Oculta, pelas reações que tem gerado nos países em que foi publicado, pode ser a oportunidade de os leitores portugueses se reconcialiarem com Faciolince, até porque é o primeiro romance que o escritor publica depois de Somos o Esquecimento que Seremos. De acordo com The Economist «este romance muito bem trabalhado não só expõe as atitudes contrastantes dos seus narradores em relação ao sexo, à ruralidade e à tradição num país que se está a modernizar, como também conta em forma ficcional a história real da tentativa de criar uma classe média rural na Colômbia.» Para o El País, Oculta pode também ser lido «como uma metáfora da Colômbia.»

 

Oculta chega às livrarias a 12 de fevereiro.

 

Cartas a Sandra e Carta ao Futuro, de Vergílio Ferreira, mais duas reedições no catálogo da Quetzal. E mais exemplares de Somos o Esquecimento que Seremos, de Héctor Abad Faciolince, que estará em Lisboa ainda este mês para receber o Prémio de Literatura Casa da América Latina /Banif 2010 Criação Literária.

 

 

 

«Aos paramilitares que estavam a cometer crimes e a matar pessoas, o meu pai sempre opôs as palavras. As que dizia nos seus discursos e as que escrevia no jornal. Eu também não posso vingar-me de uma maneira física, tomar as armas e ser como eles. Só me resta o que me ensinaram a viver em casa: o valor das palavras. É a única vingança admissível.» Héctor Abad Faciolince, em entrevista ao Jornal de Letras (Abril 2009)

O Prémio Literário Casa da América Latina/Banif 2010, de Criação Literária, destinado a premiar a melhor obra de autor latino-americano editada em Portugal em 2008 e 2009, foi atribuído por unanimidade à obra Somos o Esquecimento Que Seremos, do escritor colombian Héctor Abad Faciolince, publicado em 2009 pela Quetzal Editores.

 

Ao Prémio concorreram 21 obras de autores argentinos, brasileiros, colombianos, cubanos e mexicanos, publicadas por 9 editoras portuguesas.

 

O Júri, constituído pela Profª Doutora Maria Fernanda de Abreu, presidente, pelo Prof. Doutor Fernando Pinto do Amaral e pelo Dr. José Manuel de Vasconcelos, em representação da Associação Portuguesa de Escritores, e secretariado pelo Dr. Mário Quartin Graça, em representação da Casa da América Latina, sem direito a voto, justificou a sua deliberação de atribuir o Prémio àquela narrativa, «por se tratar de uma obra portadora de uma escrita pessoal que implica, ao mesmo tempo, uma dimensão humana inalienável. Testemunho filial sobre uma figura representativa de uma época e de umas circunstâncias políticas, sociais e cívicas, que marcaram avida recente da América Latina, o livro apresenta-se também como uma narrativa de aprendizagem, plena de memórias e de ressonâncias autobiográficas, que reconstitui a atmosfera de uma família colombiana sa segunda metade do século XX, contada a partir do ponto de vista do menino, do adolescente e do jovem que o escritor adulto recupera, guiado pela ausência dolorosa do pai assassinado - personagem tutelar de toda a obra.» (...)


Do comunicado enviado à impresa pela Casa da América Latina e BANIF.

Sara Figueiredo Costa que, há um ano escreveu este texto publicado na revista Time Out, onde diz que em Somos o Esquecimento Que Seremos a presença do pai é o vértice por onde o filho organiza a sua própria narrativa, mas onde o sentimentalismo podia ganhar terreno à literatura, a lucidez do narrador impõe-se, mostrando uma personagem venerada, generosa e muito amada, mas nunca uma sombra elogiosa. Do seu Cadeirão Voltaire, explica agora por que é que priva os leitores do blogue do que se imagina que fosse uma boa conversa a dois. Mas só imaginamos mesmo, porque a Sara nos deixa com essa projecção e levanta, apenas, o véu dos silêncios partilhados.

E chega a altura do ano em que recordamos que Somos O Esquecimento que Seremos é um livro excepcional, sobre o amor excepcional de um filho pelo seu pai. E muito mais do que isso também.

 

 

 

 

Somos o Esquecimento que Seremos é a reconstrução amorosa e paciente de uma personagem: a do médico Héctor Abad Goméz que dedicou a sua vida - até ao dia em que foi assassinado em pleno centro de Medellín - à defesa da igualdade e dos direitos humanos. É um livro cheio de sorrisos que canta o prazer de viver, mas também mostra a tristeza e a raiva causadas pela morte de um ser excepcional.

 

Conjurar a figura do pai é um desafio que percorre consagradas páginas da História da Literatura. Quem não se lmebra das obras de Kafka, Philip Roth, Martin Amis ou V.S. Naipul sobre o seu venerado ou questionado progenitor? A partir de agora também será difícil esquecer este livro pungente de Héctor Abad Faciolince, escrito com coragem e ternura.

 

O título do livro de Héctor Abad Faciolince é também o primeiro verso de um soneto que o autor encontrou no bolso do seu pai, em circunstâncias que só a leitura do livro deveria revelar. Se esse verso (e os outros 13) foi ou não escrito por Jorge Luis Borges é um mistério que parece ainda não ter chegado ao fim. Para seguir aqui, num post muito justamente chamado «o labirinto de Borges».

 

Miguel Santos Teixeira leu Somos o Esquecimento que Seremos, de Héctor Abad Faciolince.

 

 


"Somos o Esquecimento que Seremos" é antes de tudo um excelente título. Uma constatação com que raras vezes nos confrontamos, pois andamos sempre demasiadamente ocupados em querer ser algo que nos evite cair no esquecimento que, efectiva e fatalmente, um dia seremos. Quanto ao "miolo" em si, estamos perante uma descrição apaixonada de um filho por um pai que admirou e ainda hoje lhe é referência na vida que leva e de que muito se orgulha. Trata-se de uma manta de muitas recordações, que anos a fio estiveram guardadas à espera do momento de serem reveladas, momento a partir do qual despoleta todo um incrível conjunto de sentimentos que nos agarram pelos colarinhos e nos sugam literalmente para o interior desta obra ímpar. Mas se por um lado partilhamos dos medos, raivas e anseios que estiveram sempre presentes na vida do autor enquanto o seu pai, o médico Héctor Abad Goméz, foi um activo e irredutível militante na defesa da igualdade e dos direitos humanos, por outro lado vamo-nos apercebendo de toda a humanidade, paixão - quer pela família quer pelo povo colombiano carenciado e subjugado à força imposta pelo regime - e coragem postas em cada acção que, contra tudo e contra todos, este exemplar ser humano sempre tentou levar a bom porto, mesmo sabendo-se num ambiente marcado por um regime autoritário e militarista, quantas vezes alheio aos genuínos interesses e preocupações da população que acerrimamente Abad Goméz defendia.

Encontrei neste livro uma das mais belas e sentidas homenagens que podem ser feitas a um pai. Toda a ternura, paixão, respeito, consideração, transparecem para cada página de forma genuína, fluida e sem espartilhos de qualquer espécie. E o que mais me marcou, finda esta maratona que tanto deve ter custado a correr ao autor face a tudo o que lhe relembrou, foi a ausência de um ódio marcado, que até seria compreensível, face a quem ordenou e mandou assassinar o seu pai, certo dia em pleno centro de Medellín. Um exemplo, até neste particular.

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