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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

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 Com este livro de fados inéditos, o génio poético de Vasco Graça Moura é recordado quatro anos após a sua morte. Na obra de Vasco Graça Moura, que escreveu vários ensaios sobre a origem deste género musical, há muitas incursões no fado e, inclusive, um livro que lhe é inteiramente dedicado: Letras do Fado Vulgar. O poeta escreveu alguns fados para as vozes de intérpretes como Mísia, Kátia Guerreiro ou Carminho. 

A Puxar ao Sentimento inclui um bom número de fados inéditos de Vasco Graça Moura, marcados pelo seu génio melancólico e pleno de ironia — são poemas maravilhosos que, só por si, constituem uma homenagem ao fado e uma contribuição literária para abrir (ainda mais) as suas portas.
Quatro anos depois da morte de Vasco Graça Moura, esta é uma forma de continuar a recordar uma das grandes vozes da poesia e da literatura portuguesas do nosso tempo.

O livro sai para as livrarias a 21 de setembro.

 

[O ENTARDECER]

 
O pai de Lisa viu passar esse entardecer
até lá em baixo
até México D.F..
O meu pai viu esse entardecer calçando as luvas
antes do seu último combate.
O pai de Carolina viu esse entardecer
derrotado e doente depois da guerra. O mesmo
entardecer sem braços
e com os lábios
delgados como um queixume.
O que o pai de Lola viu trabalhando numa
fábrica de Bilbau e o que
o pai de Edna viu procurando as palavras
exactas da sua prece.
Esse entardecer fantástico!
Aquele que o pai de Jennifer contemplou
num barco no Pacífico
durante a Segunda Guerra Mundial
e o que o pai de Margarita contemplou
à saída de uma taberna
sem nome.
Esse entardecer corajoso e trémulo, indivisível
Como uma seta lançada ao coração.

 

[Tradução de Francisco José Viegas]
 
NOTA: «O meu pai viu esse entardecer calçando as luvas antes do seu último combate»  Léon Bolaño, pai de Roberto Bolaño, foi boxeur e condutor de camiões. Chegou a ganhar o titulo de campeão de pesos pesados antes de conhecer a professora primária Victoria Avalos, com quem casou e com quem se mudou para Quilpué. Léon e Victoria separaram-se em 1973. Léon e Roberto Bolaño não se viram durante 22 anos – o encontro entre os dois deu-se em Madrid, em 2000, quando o escritor trabalhava no romance 2666. «Matou-se por causa desse livro. Quase não dormia, era uma obsessão», declarou Léon Bolaño em 2006. O pai soube da morte de Roberto apenas dois dias depois.

Mediterrâneo, o nono livro de originais do autor, foi a obra premiada

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João Luís Barreto Guimarães foi o vencedor da VI edição do Prémio de Poesia António Ramos Rosa, com o livro Mediterrâneo.  O júri, do qual fizeram parte Nuno Júdice, José Tolentino Mendonça e Adriana Nogueira, decidiu galardoar este ano o nono livro de poemas originais do poeta portuense. Publicado em março de 2016, Mediterrâneo é uma deambulação pela história e pela cultura europeia e mediterrânica, atravessando a paisagem física e espiritual, bem como o tempo entre a Antiguidade clássica e a contemporaneidade.

 

O Prémio de Poesia António Ramos Rosa, instituído pelo município de Faro, destina-se a galardoar um livro de poesia escrito em português, publicado integralmente em 1ª edição. Este prémio, do qual já se realizaram cinco edições, em 1999, 2001, 2007, 2009 e 2015, procura promover o aparecimento de novos poetas, mas também reconhecer o trabalho dos já consagrados. Em todas as edições teve mais de 50 obras a concurso, tendo sido atribuído a poetas de reconhecida excelência literária como Fernando Echevarria, Fernando Guimarães, Nuno Júdice, João Rui de Sousa e Luís Quintais e tem o valor de €5.000 (cinco mil euros).

 

Segundo o júri, a decisão fundamentou-se pelo facto de «o livro Mediterrâneo se ter destacado do conjunto das mais de cem obras apresentadas a concurso, pela sua coerência temática, ligada ao tema da viagem, pela originalidade de um universo que não se limita à descrição, mas capta, em cada apontamento, o pormenor essencial em que a História e a cultura europeias se projetam.

Transportando para o presente a antiguidade greco-latina, este livro marcante de João Luís Barreto Guimarães, no entender do júri, celebra o encontro da sua poética com este mundo de memórias, de correspondências e de vozes, e vem na sequência de uma obra que se tem vindo a impor ao longo dos anos, em lugar de destaque da nossa poesia contemporânea, fazendo dele merecedor do Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa.»

João Luís Barreto Guimarães junta-se a Fernando Echevarria, Fernando Guimarães, Nuno Júdice, João Rui de Sousa e Luís Quintais, figuras de relevo no panorama da poética nacional, que foram distinguidos nas anteriores edições do Prémio.
 

 

Mediterrâneo é precedido por Você Está Aqui (2013) e Poesia Reunida (2011), publicados pela Quetzal Editores.

 

A cerimónia de entrega do prémio realizar-se-á no dia 9 de setembro, às 17h em Faro, em cerimónia pública

 

João Luís Barreto Guimarães nasceu no Porto, em junho de 1967. É poeta, cirurgião plástico e vive em Leça da Palmeira com a mulher e a filha. É um dos poetas mais prolíficos e empenhados na causa poética – viver através e para a poesia. Publicou o primeiro livro de poemas Há Violinos na Tribo, em 1989, a que se seguiram Rua Trinta e Um de Fevereiro (1991), Este Lado para Cima (1994), Lugares Comuns (2000), 3 (poesia 1987-1994), em 2001, Rés-do-Chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo(2009). Poesia Reunida (2011) aproximou os primeiros sete livros que constituem a sua obra editada até ao momento. Em 2013 publica Você Está Aqui, o balanço poético e pessoal do homem e do poeta, aos 40 anos, a procura e reafirmação do seu lugar, e da sua poesia, no mundo.

 

 

Notas de imprensa sobre João Luís Barreto Guimarães:

«Em JLBG, o humor é um sentido extra, um assumir do desconcerto do mundo, uma fuga em frente.» Pedro Eiras, Colóquio/Letras

 

«Uma sensibilidade quase epidérmica das ocorrências da vida.» Fernando Guimarães, Jornal de Letras

«O nome de JLBG é absolutamente central no quadro da evolução da linguagem poética portuguesa.» António Carlos Cortez, Jornal de Letras

 

«… a verdade é que ele só sabe escrever “de dentro da vida” e faz sempre da vida (e da escrita) uma celebração.» José Mário Silva, Expresso

 

«A primeira coisa que me parece de assinalar é o espírito de jogo e de ironia (…) Depois, a densa memória cultural que parece habitar esta poesia.»  Luís Quintais, Relâmpago

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

 

Um dos poemas mais lidos de José Luís Peixoto. É do livro A Criança em Ruínas.

Mede Deus pela voz do seu corpo

e retira o peso do ar pelos passos leves

Acrescenta o vento ao tempo

sobe e cresce pela copa das árvores

e serpenteiaa corrente e as escarpas

 

É uma queda de água, de águia

um ovo sibilante numa pirâmide em fogo

Dá vida à luz e ao milho o caminho longo

e respira no trevo uma ameaça de bondade

 

Serpente-pássaro azul, vermelha

que arde no voo e nas constelações

Desaparece nas nuvens e nas borboletas

e regressa na altura das colheitas

 

Tem um ciciado crónico desde a infância

e alivia o peso do mundo e dos arquipélagos

Aceita a religião e envelhecer mais cedo

oferece ao homem o fim da culpa e da penitência

 

Um poema de Tiago Patrício, publicado no Livro das Aves (de uma editora concorrente) e galardoado com o Prémio Daniel Faria 2009. (No ano de 2008, José Luis Peixoto viu o seu Gaveta de Papéis reconhecido com o mesmo título.)

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