Pedro Paixão escreveu A Cidade Depois a seguir ao 11 de Setembro, em Nova Iorque. Agora que o livro foi recomendado pelo Ministério de Educação aos alunos do 10º ano, o autor disponibiliza no seu site todo o texto (62 páginas) para download.
Eis um dos parágrafos iniciais:
Naquela pequena e acolhedora ilha onde vivem seis mil pessoas e chove quase nada, entrei em agonia. A distância, a impotência, a confusão, a tristeza, o medo tomavam conta de mim. Eu, que já antes estava deprimido, agora não sabia o que fazer: deixei de falar, de andar, de ler. Tínhamos bilhetes de passagem para o continente para dali a três dias. A Leonor e um casal amigo, acabado de chegar e que não via há muito, ajudou-me a suportar aquilo. A única coisa que sabia, sem que no entanto pudesse dizer por que o sabia e que me repetia sem cessar, era que aquilo era a pior coisa que acontecera na minha vida, uma vida privilegiada em que tivera a sorte de nunca ter conhecido a guerra, o exílio, a destruição, a miséria. O que confusamente sabia era que aquilo era muito mais do que aquilo: a destruição de edifícios, a morte de seis mil pessoas. Se bem que isso fosse já de uma extrema violência e as televisões continuassem a repetir mecanicamente as mesmas imagens, sem propósito nem piedade. O que eu sabia era que alguma coisa tinha mudado, no mundo e em mim.