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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

 

«”O Zelota”promete revelar o que durante dois milénios foi ocultado. Promete-nos revelar o “verdadeiro” Jesus de Nazaré. Para Aslan, Jesus ser o filho de Deus é evidentemente uma canção de embalar inventada pela comunidade helenizada e pelo seu mestre Paulo de Tarso. A “verdade” foi outra: Jesus pertencia à seita zelota, com um programa político de libertação dos Judeus, de expulsão dos Romanos e de subversão populista da nobreza judaica do Templo.»

 

Miguel Morgado, Sábado

 

 

Neste tipo de investigação quais são as fontes mais fiáveis?

Bem, quer dizer, primeiro o termo "fiável" não será o mais adequado, tudo depende do grau de probabilidade de ter acontecido. Os Evangelhos em geral não são fiáveis porque não foram escritos para ser lidos como um relato histórico. Os Evangelhos são argumentos teológicos sobre Jesus, mas isso não quer dizer que não existam partes historicamente mais fiáveis que outras.

Por exemplo?

A forma como os académicos trabalham é a chamada multiple attestation [multiplicidade de testemunhos]. Se uma história de Jesus for encontrada nos quatro Evangelhos é mais provável que seja um facto histórico do que mitologia. Por exemplo, encontra-se uma história no Evangelho de Marcos - dos primeiros - e no de João - o último a ser escrito - mas a história é diferente nos dois. A entrada de Jesus em Jerusalém no Evangelho de Marcos é a última coisa que Jesus faz durante o seu ministério. No de João é a primeira. Os académicos quando confrontados com isto concluem que a de Marco é mais fiável que a de João porque foi escrita 40 anos antes da de João. Mas será uma fórmula à prova de bala? Não. No entanto, é o melhor que podemos fazer.

Porque decidiu escrever sobre Jesus?

Tenho uma longa história com Jesus, primeiro a adorá-lo religiosamente, depois a estudá-lo como figura história. Estamos a falar da figura mais importante da sociedade ocidental. Um homem envolto em mistério, cuja vida foi interpretada de diferentes formas, e estou muito interessado em quem era mesmo e no que significava no mundo em que viveu.

 

Vanda Marques, do i, entrevistou Reza Aslan. A entrevista completa pode ser lida aqui.

 

«A escrita criativa do currículo de Aslan é, de facto, a escrita criativa de “O Zelota” (ao contrário do que reclama para si próprio, Aslan não é um teólogo académico). E isso é segundo mérito. Aslan consegue mesmo oferecer emoção àquilo que poderia ser mais uma derivação chata da teologia céptica contemporânea. Nesse aspecto, “O Zelota” deveria inspirar aos da teologia crente contemporânea a desejarem o mesmo nível de intensidade. O leitor é cativado pelas descrições do tempo e cultura de Jesus e, a esse nível, o livro funciona lindamente. Aslan teve a capacidade de convergir estudo em entretenimento, o que não precisa de ser uma blasfémia.»

 

Ler aqui a opinião de Tiago de Oliveira Cavaco sobre O Zelota, de Reza Aslan.

 

«É assombroso que uma figura de quem tão pouco se sabe e sobre a qual não emergiu nova informação há muitos séculos continue a suscitar a publicação de dezenas de livros por ano, mais “científicos” ou mais “espirituais”, cada um deles reivindicando estar mais próximo da “verdade” do que os restantes.

 

Reza Aslan reconhece que “há apenas dois factos históricos sólidos acerca de Jesus de Nazaré: o primeiro é que Jesus foi um judeu que liderou um movimento popular judaico na Palestina no início do século I; o segundo é que Roma o crucificou por o fazer”. »

 

José Carlos Fernandes, Time Out

 

Excerto da entrevista de Reza Aslan, autor de O Zelota – A Vida e o Tempo de Jesus de Nazaré, ao jornal Expresso

 

«Nos últimos dias estive na internet à procura de reações. Para ser honesto, não encontrei muito debate. O que encontrei foi sobretudo acusações. Por exemplo, a “National Review” descobriu uns posts de há um ou dois anos em que insultava algumas pessoas que discutiam consigo online. Diziam que agora [em referência à polémica entrevista à Fox News] era a sua vez de ser vítima, depois de ter sido o bully. A minha impressão é que, quando fala em conversa sobre certos tópicos, na melhor das hipóteses trata-se apenas de pessoas a repetir os seus pontos de vista, sem qualquer envolvimento num verdadeiro debate.

 

Olhe, você está absolutamente correto ao sugerir que, especialmente nos Estados Unidos, hoje me dia mais polarizados do que nunca, isto para muitas pessoas foi uma razão para escolher um lado. Ou se está do lado de Aslan ou da Fox News. É um facto que a maioria das pessoas tende a entrincheirar-se e a gritar a partir das suas posições. Recebi literalmente centenas de mails de indivíduos a dizer que nunca mais iam ver a Fox News. Muitos eram cristãos. Diziam que se tivessem simplesmente sabido do livro não o iriam ler, mas por causa da entrevista queriam lê-lo. Para o odiar. Em vez disso, descobriram que não é nada do que pensavam. Não é de todo um ataque a Jesus. Mudou a opinião deles, e agora vão tentar ler os meus outros livros.

[…]

Acha que alguém estranhou o facto de não escrever num registo mais académico?

 

Passei toda a minha carreira académica a escrever para uma audiência popular. Esse é o meu objetivo. “O Zelota” é o meu quinto livro. Só um dos cinco é um trabalho académico. Os outros são deliberadamente concebidos para pegar em ideias complexas e traduzi-las em narrativas acessíveis e apelativas. O meu objetivo, enquanto escritor e académico, tem sido sempre alargar a rede. Fiz isso no meu primeiro livro, “No God but God”, sobre as origens e evolução do Islão. E fiz com este. Recebi críticas de académicos a dizer que era demasiado diletante e amador, que simplificava os assuntos. Há dez anos que ouço essas críticas. Acho que o problema dos académicos é passarmos o tempo todo a escrevermos para nós próprios. Dito isto, tenho uma suprema confiança na minha investigação. E é por isso que todos os meus livros têm uma secção final de notas muito extensa, onde discuto as minhas fontes, os estudiosos que concordam ou discordam de mim. Se um académico quiser discutir um livro meu a nível académico, pode fazê-lo. Vai simplesmente ao fim do livro, onde estão todos os meus argumentos.  Mas volto a enfatizar: eu não escrevo para académicos. Não me interessa fazê-lo. A minha audiência são todas as outras pessoas.»

 

 

 

Excertos da entrevista que Reza Aslan concedeu à revista Sábado. O Zelota - A Vida e o Tempo de Jesus de Nazaré chega às livrarias a 7 de fevereiro.

 

Numa entrevista na Fox News, a jornalista perguntou-lhe repetidamente porque é que escreveu um livro sobre Jesus sendo muçulmano. Ficou surpreendido?

Não. Há uma grande parcialidade antimuçulmana nos Estados Unidos e a Fox News é o primeiro exemplo disso. Transformam o sentimento antimuçulmano em milhões de dólares de lucro. São uma organização noticiosa tendenciosa e preconceituosa contra os muçulmanos e os estrangeiros em geral. Sabia que ia ser atacado. O que não sabia era que a entrevista toda ia ser sobre o meu direito de escrever este livro.

 

Já foi discriminado? Sente reacções agressivas?

Qualquer muçulmano na América tem histórias de discriminação. Eu não sou excepção: ter um escrutínio extra no aeroporto, ter longos olhares de lado no metro. Neste caso, não estou a ser atacado pelos cristãos, estou a ser atacado por grupos de direita. As pessoas que me enviam a mim e à minha família ameaças de morte são fanáticos de direita, ameaçados pela noção de um Jesus revolucionário que combateu os ricos e poderosos, porque muitas destas pessoas, que alegam ser porta-vozes de Jesus, são eles próprios ricos e poderosos.

 

Estuda Jesus há mais de 20 anos. É uma obsessão?

Admito que sim, mas acho que toda a gente a devia ter. Estamos a falar de um camponês pobre e iletrado, da Galileia rural, que começou um movimento em favor dos rejeitados e marginalizados, que foi uma tal ameaça para os poderes políticos e religiosos do seu tempo que foi preso, torturado e executado.

 

Diz que Jesus era um revolucionário, não um pacifista: queria expulsar os romanos e instalar um estado teológico.

Essa é a função do Messias. Se ele se intitulava o Messias, o que queria dizer é que era o descendente do rei David, que tinha vindo para estabelecer o trono de David na terra. É tão simples quanto isso. Ou nunca pensou que era o Messias; ou pensou e a sua tarefa era remover a ocupação romana. É isso que é suposto o Messias fazer.

Quais são as diferenças que encontrou entre o Jesus divino e o Jesus humano?

A maior parte dos cristãos pensa que Jesus não tinha ambições políticas ou terrenas, que foi um pacifista de boas acções. O que não percebem é que no tempo de Jesus religião e política eram a mesma coisa.

Então não era um pacifista?

Não há prova de que Jesus defendesse abertamente a violência, mas este é o homem que disse que não vinha para trazer paz à terra mas a espada; que ordenou aos seus homens que se armassem antes de se esconderem das autoridades; que foi crucificado pelo crime de traição contra o Estado. A ideia de que era apenas um pregador tranquilo não se ajusta à história daquele tempo. A visão de Jesus que muitos cristãos têm é uma que Roma teria ignorado.

 

Entrevista completa à Sábado aqui.

 

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