Excerto da entrevista de Reza Aslan, autor de O Zelota – A Vida e o Tempo de Jesus de Nazaré, ao jornal Expresso
«Nos últimos dias estive na internet à procura de reações. Para ser honesto, não encontrei muito debate. O que encontrei foi sobretudo acusações. Por exemplo, a “National Review” descobriu uns posts de há um ou dois anos em que insultava algumas pessoas que discutiam consigo online. Diziam que agora [em referência à polémica entrevista à Fox News] era a sua vez de ser vítima, depois de ter sido o bully. A minha impressão é que, quando fala em conversa sobre certos tópicos, na melhor das hipóteses trata-se apenas de pessoas a repetir os seus pontos de vista, sem qualquer envolvimento num verdadeiro debate.
Olhe, você está absolutamente correto ao sugerir que, especialmente nos Estados Unidos, hoje me dia mais polarizados do que nunca, isto para muitas pessoas foi uma razão para escolher um lado. Ou se está do lado de Aslan ou da Fox News. É um facto que a maioria das pessoas tende a entrincheirar-se e a gritar a partir das suas posições. Recebi literalmente centenas de mails de indivíduos a dizer que nunca mais iam ver a Fox News. Muitos eram cristãos. Diziam que se tivessem simplesmente sabido do livro não o iriam ler, mas por causa da entrevista queriam lê-lo. Para o odiar. Em vez disso, descobriram que não é nada do que pensavam. Não é de todo um ataque a Jesus. Mudou a opinião deles, e agora vão tentar ler os meus outros livros.
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Acha que alguém estranhou o facto de não escrever num registo mais académico?
Passei toda a minha carreira académica a escrever para uma audiência popular. Esse é o meu objetivo. “O Zelota” é o meu quinto livro. Só um dos cinco é um trabalho académico. Os outros são deliberadamente concebidos para pegar em ideias complexas e traduzi-las em narrativas acessíveis e apelativas. O meu objetivo, enquanto escritor e académico, tem sido sempre alargar a rede. Fiz isso no meu primeiro livro, “No God but God”, sobre as origens e evolução do Islão. E fiz com este. Recebi críticas de académicos a dizer que era demasiado diletante e amador, que simplificava os assuntos. Há dez anos que ouço essas críticas. Acho que o problema dos académicos é passarmos o tempo todo a escrevermos para nós próprios. Dito isto, tenho uma suprema confiança na minha investigação. E é por isso que todos os meus livros têm uma secção final de notas muito extensa, onde discuto as minhas fontes, os estudiosos que concordam ou discordam de mim. Se um académico quiser discutir um livro meu a nível académico, pode fazê-lo. Vai simplesmente ao fim do livro, onde estão todos os meus argumentos. Mas volto a enfatizar: eu não escrevo para académicos. Não me interessa fazê-lo. A minha audiência são todas as outras pessoas.»