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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

Pode ler-se aqui o único e curto texto de autobiográfico de Paul Theroux - até ao fim do quinto parágrafo está tudo quanto este autor escreverá neste tom, segundo o próprio, num artigo sobre autobiografias e literatura, publicado na Smithsonian Magazine. O autor de O Velho Expresso da Patagónia explica o que o afasta desta linha.

 

«I never felt that my life was substantial enough to qualify for the anecdotal narrative that enriches autobiography. I had never thought of writing about the sort of big talkative family I grew up in, and very early on I developed the fiction writer’s useful habit of taking liberties. I think I would find it impossible to write an autobiography without invoking the traits I seem to deplore in the ones I’ve described—exaggeration, embroidery, reticence, invention, heroics, mythomania, compulsive revisionism, and all the rest that are so valuable to fiction.»

 

Ainda que os seus relatos de viagens seja na primeira pessoa, Paul Theroux é essencialmente um observador do que o rodeia. E pode ser que seja justamente esse olhar o mais distanciado possível que justifica que seja também um grande ficcionista. Reconhecido na ficção sobretudo pelo A Costa do Mosquito, Paul Theroux publicou recentemente A Dead Hand in Calcuta, romance que em breve a Quetzal disponibilizará para os leitores portugueses, numa tradução de Nuno Guerreiro Josué.

 

A Revista Ler já está nas bancas. José Eduardo Agualusa, em O Lugar do Morto, «espaço onde escritores já desencarnados reflectem, a partir do além, sobre os dias que correm, dedica a sua crónica aos livros», partindo de A Ninfa Inconstante de Cabrera Infante e passando por Cortázar, Nabokov e Fernando Pessoa. José Guardado Moreira escreve sobre O Velho Expresso da Patagónia e José Riço Direitinho sobre O Deserto Sem Saída.

Há quem diga que um livro de viagens é uma espécie de romance, que contém elementos de ficção, que sai da imaginação e que é uma estranha criatura: uma metade, o pequeno animal prosaico da não-ficção, e a outra, o fabuloso monstro da ficção, e ali fica, desafiando-nos a que se lhe dê um nome. Existem, sem dúvida, livros que se encaixam nesta descrição, caminhadas e viagens feitas por escritores em épicos e odisseias. Quer escrever um romance, mas não tem nem tema, nem personagens, nem paisagem? Então faz-se uma viagem - um par de meses, não muito dispendiosa, não muito perigosa - e escreve-se, narrado tudo de forma suficientementemente angustiante e sardónica, dramatizando-se a si próprio, porque o escritor é o herói desta... quê? Busca, talvez, mas cheia de liberdades.

Esta não é de todo a minha preocupação. E quando leio livros assim e dou pela falsificação, pela invenção, pelos ornamentos, sinto-me obrigado a parar de ler. A autodramatização é inevitável em qualquer livro de viagens: a maioria dos viajantes, por mais sombrios ou pouco imaginativos que sejam, vêem-se a si próprios como aventureiros solitários um tanto heróicos. Mas o estranho é que os verdadeiros heróis de viagens raramente escrevem sobre elas.

 

Em O Velho Expresso da Patagónia, para conferir aqui.

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