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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

Helena Vasconcelos, no Ípsilon, dá cinco estrelas a Acasalamento, de Norman Rush, e considera que o escritor criou «uma das melhores personagens literárias femininas das últimas décadas.

 

«O facto de toda a acção se desenrolar nos anos 70 do século passado acrescenta um certo exotismo e um contexto histórico excepcional. Rush que, com a mulher Elsa, passou exactamente essa época — de 1978 a 1983 — em África, integrado no Corpo da Paz, está perfeitamente familiarizado com os acontecimentos que determinaram as grandes viragens no continente: luta contra o apartheid na África do Sul, independência de países colonizados, auto-determinação e consolidação das teorias marxistas. No entanto, o autor nunca se deixa empolgar por ideologias e mantém, até ao desfecho, um distanciamento satírico, e uma postura afectuosamente crítica. Enquanto a acção se alonga com a mesma cadência que o tempo em África e os principais protagonistas vão perdendo o seu brilho heróico, Rush nunca se esquece que a sua tarefa mais importante é a de explorar o poder da linguagem. A mulher que tenta sempre aperfeiçoar o seu conhecimento é uma virtuosa do “idioverso”, uma mistura de termos em várias línguas (incluindo as nativas, como o tswana), de referências cruzadas, de piadas privadas, de neologismos, de citações, de estrangeirismos, manipulados e utilizados com avidez. Para ela, a intimidade suprema passa sempre pela linguagem — “ a decadência é quando se começam a perder os nomes das coisas (p. 211) — e a pobreza do vocabulário é uma condenação para qualquer sociedade. Quem não gostaria de lhe seguir os passos, atravessando um deserto e vivendo num lugar quase perfeito, onde todas as experiências são possíveis?»

 

London author photo 2013.JPGFoto: Elsa Rush

«Porque decidiu responder por email em vez de fazer uma entrevista por telefone? Porque prefere escrever sempre que pode?
Sou esquisito ao telefone, ainda mais quando faço entrevistas. Leio-as mais tarde e consigo ver que por causa do meu nervosismo acabei por transmitir ideias enigmáticas e até enganosas em relação ao que realmente tinha para dizer.
O seu primeiro romance foi agora publicado pela primeira vez em Portugal. Isto não lhe parece estranho, quando estamos a falar de um livro que foi lançado originalmente em 1991?
Bom, a única coisa que sentia sobre esta publicação em Portugal era prazer. Mas isso foi até ter lido esta pergunta. Pergunto-me se não deveria ter estado revoltado com o país durante todos estes anos.
Tem uma média de dez anos entre livros e só publicou quatro. Não leve a mal esta pergunta, mas o que faz para viver?
Já ganhei a vida de diferentes maneiras, de apanhar cerejas a descarregar camiões que transportavam molhos de “New York Times” para os pontos de venda, durante a madrugada. Estive empregado como responsável pelas batatas fritas na cozinha de um restaurante quase durante 30 minutos. Fiz as coisas que habitualmente os escritores fazem, dei aulas, fiz revisão de texto… O trabalho que fiz durante mais tempo foi como alfarrabista. A Elsa trouxe quase sempre dinheiro para casa e entre os dois recebemos três pequenas mas importantes heranças, que foram uma grande ajuda. A história profissional dela é tão variada como a minha mas foi durante muito tempo designer têxtil. Trabalhámos no Botsuana, em África, durante cinco anos como directores do programa do Peace Corps [organização de voluntariado gerida pelo governo dos EUA]. Tivemos alguns prémios, uns bónus, direitos de livros vendidos para filmes que acabaram por não resultar em filmes… Enfim, percebemos cedo que para nós o lema mas inteligente seria “manter baixas as expectativas”. Vivemos durante 53 anos menos os cinco de África numa pequena casa numa quinta construída em 1840. Primeiro alugámo-la por 55 dólares por mês, depois comprámo-la, mais os quase oito mil metros quadrados de terreno, tudo por 20 mil dólares. O nosso carro é um Saturn de 1998.»

 

NR.JPG

 Norman Rush em entrevista exclusiva ao jornal i.

«Com todo o respeito por Emma Bovary, Anna Karenina e Isabel Archer, nenhum homem moderno conseguiu imaginar uma protagonista feminina tão vívida e complexa como a antropóloga-amante-aventureira  sem nome de Acasalamento

Robert Christgau

 

«Uma das experiências de leitura mais hipnóticas que alguma vez tive.»

Margaret Forster, Sunday Telegraph

 

«Uma comédia de costumes que crepita de ideias.»

Observer

 

«Tudo está em jogo – eticamente, emocionalmente, imaginativamente. O melhor romance deste ano e sem dúvida dos que estão para vir.»

Natasha Walter, Independent Books of the Year

 

«Um sucesso retumbante.»

Guardian

 

«Emocionante, cheio de vigor e luminosidade. Poucos livros evocam tão eloquentemente o estado do amor no seu apogeu.»
Jim Shepard, New York Times

 

frenteK_acasalamento.jpg

 

 

Nas livrarias a 17 de julho.

«Aos 81 anos, o norte-americano Norman Rush estreia-se em português com um romance sobre as relações entre homens e mulheres. Conversa em Nova Iorque com jazz em fundo sobre literatura, política e muitas perguntas (dele) sobre como vai Portugal.

 

Com Norman Rush, a escrita (e a conversa), é sempre política. Antigo activista de esquerda, começou a escrever na prisão, aos 17 anos. Foi preso por se recusar a combater na Guerra da Coreia, um conflito que durou três anos, entre 1950 e 1953. “A minha liberdade foi escolher não morrer na guerra”, diz agora, com 81 anos, sobre esse seu momento enquanto objector de consciência.


Quis ser poeta, depois experimentou qualquer coisa a la Joyce. Não deixou uma página desse período. “Rasguei, queimei… ”, conta. Depois foi ganhar a vida, como vendedor de livros antigos. Recomeçou a escrever na década de 1980, quase em reacção a uma experiência em África como observador americano num programa de paz no Botswana. Em 1986 publicou Whites, e foi finalista do Pulitzer de ficção. Mating veio cinco anos depois e venceu o National Book Award. Em 2003 apareceu com Mortals e a fasquia continuava alta, com aplausos da crítica. Até este Corpos Subtis (2013), o primeiro dos seus romances passado fora de África e… “o menos consensual de todos”, afirma numa voz grave, porte altivo num rosto de olhos azuis e cabelo de um branco imaculado. Há jazz em fundo naquela mesa de madeira e bancos de pele de um restaurante nova-iorquino em University Place. Um clássico de pratos como meat loaf ou bife de corte e tamanho americanos. “Gosto deste sítio calmo, sem música de plástico, onde podemos estar a conversar ou a ler sem que nos sintamos expulsos pelo tempo.”»

 

Isabel Lucas entrevistou o escritor Norman Rush para o Ípsilon. Ler o artigo completo aqui.

 

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