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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

«Com efeito, não existe passado literário em Portugal para o estilo de Pedro Vieira, o qual não se resume a adornar a narração de uma história, uma simples história (pecado maior do atual romance português),mas, tal como o de Raul Brandão e o de Lobo Antunes, a evidenciar, por meio da caracterização das personagens, segundo uma leitura satírica, traços fundamentais da cultura portuguesa e do comportamento idiossincrático dos portugueses, revolucionados neste princípio de século.

A obra do autor reflete, justamente, esta revolução mental e comportamental que sucede todos os dias à nossa frente e que escritores mais velhos, obcecados com o Portugal saído do 25 de Abril, não traduzem na sua obra. Há, indubitavelmente, uma atualização temática da sátira em Pedro Vieira, que se junta, assim, na sua prática, a Rui Zink e a Manuel da Silva Ramos.

É, assim, por força do seu estilo, que a obra de Pedro Vieira, constituída apenas por dois livros de ficção, se singulariza no panorama do romance português dos princípios do século XXI, ganhando jus, por mérito próprio, a ser considerado um autor de culto entre os leitores de 20 e 30 anos (que dominam o jargão suburbano americanizado e informático dos seus livros) e, provavelmente, no futuro, da generalidade do público.»

Miguel Real, Jornal de Letras

 

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“Em O Rebate, retrato realista de ancestrais comunidades transmontanas, pequena obra-prima da novela portuguesa, alto cume do estilo singular de J. Rentes de Carvalho, cultiva-se uma constelação de valores que possui o seu apogeu ideológico nos romances atuais de autores nortenhos […]: um vitalismo instintivo (Zé Grande, sempre bêbado, dormindo num palheiro, com o cão Fadista), defensor da salvaguarda do pecúlio familiar na quezília das partilhas e da vingança dos desenganos (Marques enche a mulher de “porrada”; Abel Valadares cobiça Mariana, o regedor emprenha a Amélia dos correios), uma psicologia de bicho da terra (o taberneiro Marques); um paganismo panteísta (a festa ou feira de São Lourenço, por que todos esperam), que identifica a natureza com uma lágrima de Deus (Teixeira de Pascoaes), transfigurada numa paisagem humana e triste (a aldeia no seu todo), atestada de obstáculos (pobreza, ausência de canos de esgoto, de eletricidade, de escola, de higiene pública), que são simultaneamente provas à fé e à ação dos homens, um espírito moldado carne em alegria herética (Marques desejando a filha da Barbeita; Louise mostrando as coxas à criançada; Louise na taberna como rainha da festa, acariciada por inúmeros clientes), que convida à exuberância, às ações extremadas, próprias dos heróis ou dos loucos, criticados pela sensatez burguesa (o arcipreste, a Guarda Nacional Republicana), que reduz o desejo ao interesse familiar, e pelo ceticismo pessoal, que, no entanto, não quebra a força dos braços, sempre dispostos a lutar contra a má sorte ou a resistência numa teimosia de lavrador habituado a domar terra, flora e fauna (o padre Carlos).”

 

Miguel Real sobre O Rebate, no Jornal de Letras

 

 

 

 

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