«Mal-entendido em Moscovo, uma memória ficcional de publicação póstuma (1992), é publicado ao mesmo tempo que a reedição de O Segundo Sexo (também pela Quetzal Editores), um volumoso discurso sobre a ‘condição feminina’ escrito em fins dos anos 40 do século XX. Os dois livros cobrem uma grande parte das várias facetas de Simone de Beauvoir, cuja vida e obra atravessam o meio do século XX, alguns dos seus combates culturais e das suas contradições. Educada em colégios de freiras e devota, cedo se tornou ateia militante; ícone do feminismo, ficou para sempre, por ironia do destino, amarrada à sua relação conjugal vitalícia com Jean-Paul Sartre e ao ‘tórrido’ romance que manteve com o escritor americano Nelson Algren (de que ela gostava, pecaminosamente, de se chamar ‘mulher’, com anel no dedo). A sua relação com Sartre, diz a badana de Mal-entendido em Moscovo, pautou-se por padrões de ‘abertura e honestidade’, a que outros chamariam frieza, despudor e promiscuidade – e num certo caso as autoridades académicas chamaram desvio de menores. Não foi decididamente ‘a menina bem comportada’ do título irónico do primeiro dos seus volumes de memórias.»
Miguel Freitas da Costa, Observador