«Então, e felizmente, chegou o Carnaval para pôr fim à seca sexual a que o meu casamento estava submetido. Foi quando Aninha, de Brasília, actriz, bonitinha, vintes e tais, leitora de Bukowski, levemente alcoolizada, se sentou à nossa mesa no Jobi e a questão se resolveu por si, já que ela se convidou para a nossa cama naquela madrugada de domingo de Carnaval. Tudo se resume ao tempo e, neste caso, também à distância. O tempo e a distância juntos trabalham bem. Fosse outro o tempo e o convite da lolita nunca seria aceite. Estivéssemos acima da linha do Equador (ah, o céu de Lisboa), o convite não seria feito. Não existe pecado do lado de baixo do Equador, muito menos se o número de chopes que o garçom anotava nas bases dos copos chegava aos vinte e oito. E se Aninha não era nenhuma beleza, era daquela cidade saída da cabeça do Niemeyer e tinha as curvas extraterrestres do mestre, e estava no Rio, em casa de amigos — que nunca chegaríamos a conhecer —, tomando todas no Carnaval Carioca. Aninha tinha uma tatuagem, calçava umas botas de cano baixo e vestia uns trapinhos pretos. Pareceu-nos sexy.»
Excerto de Transa Atlântica, de Mónica Marques. Mónica Marques publicará um novo livro ainda este ano.