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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.


 

Foi publicada a primeira lista de finalistas do Prémio PT de Literatura: dois deles são autores da Quetzal Luiz Ruffato, com Estive em Lisboa e Lembrei de Você (recentemente publicado com o título Estive Em Lisboa e Lembrei-me de Ti). E Lourenço Mutarelli, com Miguel e os Demônios.

Quando Lourenço Mutarelli chegou a Matosinhos, depois de ter aterrado no Porto, entrou num café e pediu: «Um expresso e uma água». Como lhe trouxeram o jornal português, acrescentou: «E um café também». Ficou com o jornal e acabou por encontrar, no suplemento Actual, uma crítica ao livro que veio lançar a Portugal, assinada por Ana Cristina Leonardo:

 

 

Depois de ter falado com a Inês Bernardo do Sol, com a Mariana Pinto do Expresso online, falou também com a Catarina Homem Marques que publica na edição de hoje da Time Out Lisboa, uma entrevista com o Mutarelli. A fotografia é de José Rentes de Carvalho, que levou Mutarelli, Mónica Marques e a equipa da Quetzal ao sítio onde começou o mundo, Vila Nova de Gaia. Mas isso é matéria para outro post.

 

 

Depois de abandor o emprego e o casamento por motivos que guardam uma infeliz coincidência, Júnior pede abrigo ao pai. Sem dinheiro nem perspectivas, divide os dias entre o velho sofá da sala, o bar onde bebe com desocupados e as conversas com a jovem inquilina da casa, Bruna, que o pai espia por um furo no armário.

 

Num cenário típico de uma classe-média baixa, Júnior entrega-se a um quotidiano feito de objectivos pequenos e imediatos - a próxima refeição, a ida ao bar da esquina, o dinheiro do cigarro. Mas esta pasmaceira é interrompida quando pacotes misteriosos começam a chegar pelo correio. Lentamente, a realidade ganha contornos distorcidos e Júnior vai sendo arrastado para um mergulho na própria consciência - que revelará os seus limites e abismos. 


A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, de Lourenço Mutarelli | série língua comum

 

Nas livrarias a 12 de Março.

 

 

Nasceu em 1964, em São Paulo. É ficcionista, actor, dramaturgo e autor de livros de banda desenhada. Dois dos seus romances foram adaptados ao cinema. A Arte de Produzir Efeito Sem Causa, o primeiro livro de Mutarelli a ser publicado em Portugal, pela Quetzal, foi um dos títulos distinguidos com o Prémio PT de Literatura no ano passado.

Desafios, partidas, dois livros em confronto, um crítico que analisa os pontos fortes de um, as fraquezas de outro, onde um ataca, como se defende o outro. É a copa de literatura brasileira. Neste momento, num derby quase final, A arte de produzir efeito sem causa (premiado no PT de Literatura, a publicar pela Quetzal em 2010) enfrenta o Conto do amor de Contardo Calligaris.

 

(Via blogue da revista Ler)

 

«Está quase na hora de a Bruna levantar e ir para o banho. Velho safado. Dorme com uma, acorda com outra. Júnior toma outro copo de café e volta para o sofá. Mantém os ouvidos alertas, mas o silêncio, ou algo muito próximo disso, desarma sua consciência. Júnior dorme. 


Acorda com o irritante som do despertador no quarto de Bruna. No mesmo momento a porta do armário do pai começa a ranger. Constrangido, Júnior cobre a cabeça com a cabeça ensebada. Ainda assim percebe quando a porta do quarto de Bruna se abre e quando a do banheiro se fecha, segundos depois. 0132008601. Atuador de marcha. Imagina que essa deve ser a parte de maior expectativa. O momento da espera. Quando Bruna retorna ao quarto envolvida na toalha de banho e começa a secar o seu pálido corpo. Ouve a descarga. Ouve o chuveiro sendo ligado. Sente algo em suas costas e salta temendo a barata. Não consegue enxergar. Pisa num caco do copo e cai sentado no sofá. É apenas uma lasca de vidro, mas dói. Não era barata, era só uma sensação. Consegue tirar a lasca de vidro. Bruna sai do banho, avista a silhueta de Júnior.


- Bom dia.

- Bom dia, Bruna.

- Você me assustou.

- Desculpe.

- Eu me tinha esquecido de você, quer dizer, que você está morando aqui.

- Por que não se troca no banheiro? É perigoso pegar uma corrente de ar...

- Porque não tenho onde deixar a roupa que vou vestir. Eu pedi pro seu pai comprar um daqueles ganchos que você pendura atrás da porta, mas ele nunca se lembra de comprar. Como chama aquilo?

- Acho que se chama gancho mesmo. Pode deixar, eu vou providenciar isso para você.

- Não. Deve ter um nome. Tudo tem um nome. Tudo o que existe.

- É verdade. Até o que não existe tem nome.

- Até o que não existe?

- É.

- Dá um exemplo.

- Dragão.

- Mas dizem que um dia existiu.

- Não, os dragões nunca existiram.

- Não gostei desse exemplo, dê outro.

- A Medusa...

- Não, um exemplo de algo que não seja mitológico.

- Deixa eu pensar...


Júnior não consegue trazer nada à mente.


- É melhor eu pôr a roupa antes que pegue essa tal corrente de ar.


Bruna fecha a porta. Sênior deve ter ficado ansioso com a demora. Deve ter ouvido os outros conversando. Esse pensamento traz um quase-sorriso ao rosto de Júnior. Agora ela deve ter largado a toalha. Júnior vai para a área de serviço. Numa das mãos o cigarro, na outra segura a pá do lixo, por precaução. Ela vai reclamar do cheiro do cigarro, mas Júnior precisava disso.

Ainda procura lembrar-se de algo que tenha nome e não exista.»

 

Excerto de A arte de produzir efeito sem causa, de Lourenço Mutarelli, um dos distinguidos com o Prémio PT Literatura, anunciado ontem à noite, em S. Paulo. Será publicado em Portugal em Fevereiro de 2010.

 

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