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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.


Um rapazinho vai, num acto de rebeldia, morar para cima das árvores. E depois? Quanto tempo pode isto durar? Que interesse pode ter? Fiz estas perguntas a mim próprio quando iniciei a leitura de O Barão Trepador, o enorme romance que Italo Calvino terminou de escrever em 1957 e cuja edição portuguesa anda por aí a ser vendida a preço de saldo. Cosimo Piovasco de Rondó, Barão de Ombrosa, depressa me conquistou, porém: perseverou em ficar em cima das árvores toda a vida, ali vivendo sem jamais pôr um pé no chão e sem deixar, ainda assim, de desempenhar um papel decisivo nos acontecimentos do seu tempo. Magistral alegoria, admiravelmente escrita e desenvolvida, O Barão Trepador parece demonstrar que só um indivíduo destrambelhado que vive no mundo da lua, ou no das árvores, pode alimentar a utopia de criar, enfim, uma república de cidadãos livres e justos.
 

É a sugestão de leitura de Manuel Jorge Marmelo, hoje. Mais sobre O Barão Trepador pelo autor de As Sereias do Mindelo  aqui.

Chegam hoje às livrarias.

 

Cuba, em dois livros:

um inédito póstumo, que é também uma primeira tradução mundial, um livro sobre Havana dos anos 60

e

uma saga familiar passada entre Cuba e o México, na primeira metade do século XX.

 

Uma história de tango, amor e morte.

 

Um livro que atravessa um continente, sobre carris, de comboio em comboio, até ao fim da linha, até ao fim do mundo.

 

Dois belíssimos livros da série mediterrâneo: uma fábula passada no deserto, por entre o diálogo e deambulações de dois personagens insólitos e um relato poético de uma noite num bordel de Casablanca.

 

 

 

 

 

 

 

Reli recentemente, para a Comunidade de Leitores que oriento na Culturgest. «Uma Barragem Contra o Pacífico» de Marguerite Duras, um livro que foi reeditado pela Difel, no ano passado. Esperava aborrecer-me porque li a Duras de afogadilho quando tinha vinte e poucos anos e recordava, principalmente, a sua escrita experimental, minimalista e os seus textos “cinematográficos “. Achei que me iria aborrecer - agora que sou (muito) mais “madura” e principalmente porque concentrei o meu estudo na Literatura anglo-saxónica ao longo da vida - mas, na verdade, li e reli esta obra com prazer redobrado. «Uma Barragem Contra o Pacífico» é um verdadeiro romance , belamente escrito por uma mulher que já sabia que iria inovar e criar um estilo próprio. No entanto, nesta sua terceira obra, publicada em 1950, no rescaldo da 2ª Grande Guerra, Duras é já impiedosa e desassombrada. A história que ela conta é a sua própria história, a de uma mulher nascida na antiga Indochina (hoje Vietname). Duras é Suzanne, uma jovem que cresce na mais tormentosa pobreza - a dos colonos destituídos - numa terra inóspita e insalubre. Vive com o irmão - violento, terno, preguiçoso, selvagem - e com a mãe, uma mulher dura e louca que tudo faz para sustentar os filhos e tentar sair de uma situação humilhante e desesperada. O livro trata de relações familiares traumáticas, da cupidez e da ganância - a mãe quer casar a filha com um homem rico, muito mais velho, para fugir à miséria - da loucura e, também, de uma certa liberdade eufórica própria de quem nada tem a perder. Não é um livro fácil, mas o facto de se prestar a várias interpretações, torna-o fascinante. Será Suzanne uma presa ou predadora? E Joseph, o irmão, será simplesmente viril e protector ou um fraco que não pode passar sem uma “mãe” que o proteja e sustente (psicológica e fisicamente). E a Mãe, figura portentosa, será um monstro ou uma vítima? Outro aspecto interessante deste livro, para além das complexas relações entre as suas personagens é o retrato de um espaço, de uma sociedade, de um ambiente “colonial” onde são bem visíveis os sinais de decadência e de anunciada mudança. Aqui, o colonialismo não está ligado ao luxo, às casas com piscina, aos inúmeros criados para todo o serviço, aos cocktails ao entardecer mas sim com a frustração, a desadequação e a violência de quem não “vinga“ nas colónias e, pelo contrário, é destruído por elas. Suzanne, Joseph e a Mãe não podem conviver com os chineses ou com os vietnamitas - com os habitantes locais - mas são maltratados pelos seus compatriotas e não têm lugar na sociedade afluente dos europeus. Vivamente recomendado.

 

Helena Vasconcelos é autora de A Infância É Um Território Desconhecido.

 

Toda a semana quis ser Pepe. Acontece mesmo que antes desta semana eu já queria ser Pepe só que não sabia, porque nunca tinha lido Manuel Vázquez Montalbán, o escritor que morreu em 2003 no aeroporto de Bangkok. de um ataque cardíaco fulminante. Podem dizer-me que essa informação de nada acrescenta à literatura, mas é claro que sim. Quando me apaixono por um autor, quero saber tudo e sou acometida por duas síndromes: A de Zuckerman, isto é, tenho enorme dificuldade em distinguir o autor do narrador do livro, não me venham cá com coisas, porque é óbvio que os dois são um só. E a maravilhosa síndrome de Bulhão Pato, muito bem descrita por Rubem Fonseca no «Diário de um Fescenino»,  e que consiste na certeza do leitor (possivelmente ele referia-se a leitores básicos e egóticos, como eu) de que o autor se inspirou neles para escrever cenas ou inventar personagens.  Ora,  sendo eu dada a este tipo de maluquices pode depreender-se que na literatura como na vida, quando me apaixono é para valer. Na literatura passo anos entretida com o mesmo autor, sublinhando e dobrando os cantos dos livros jamais lendo outro, coisa que consideraria como tremenda traição. Na vida, pois na vida, não vamos por aí.


Isto para dizer que se me fosse possível o privilégio de mudar de sexo, passar a ser um homem, queria ser o personagem inventado por Manuel Vázquez Montalbán: Pepe Carvalho.  Ou, como lhe chama Yes, em longos e magníficos faxes sem resposta (e ela pode, porque é o amor triste do detective): Urso das Cavernas«O Homem da Minha Vida», é este o título soberbo do livro que acabo de ler.


Percebe-se o amor de Yes porque Pepe  é um daqueles homens inevitáveis por quem se é capaz de deixar tudo. Ou começar a falar menos. Um detetive que adora pratos sofisticados e falar deles e cozinhá-los, um meticuloso na escolha dos restaurantes que frequenta. Um ser que sabe tão bem o que é a tristeza do amor que quando o vê lhe foge, e não se pode querer mais sedução que isto;  agarrado a um imaginário livro de instruções que o impede de outras loucuras que não o amor céptico - se é que isso é possível - por Barcelona ou por putas.


Adorei. Pode dizer-se que um detective acabou comigo esta semana. Deve ser porque adoro homens tristes e calados. Lá está, Manuel Vázquez Montalbán deve ter sido um homem fantástico.

Mónica Marques é a primeira autora da Quetzal a deixar aqui no blogue uma sugestão de leitura.

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