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Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.
Dia 14 estivemos na Arquivo, com a Helena Vasconcelos e 'Não Há Tantos Homens Ricos Como Mulheres Bonitas Que os Mereçam'. Amanhã, estaremos com Nuno Costa Santos (o escritor Hugo Gonçalves fará a apresentação).
'Não Há Tantos Homens Ricos como Mulheres Bonitas Que os Mereçam' pela voz da sua autora, Helena Vasconcelos:
«A autora calibra o plot com a naturalidade e a segurança de quem relata uma história linear. Ora o romance de Helena Vasconcelos será tudo menos linear. Veja-se como do Livro I para os seguintes o tempo da narração sofre uma forte guinada. Afinal, nem tudo é como na pacata Steventon. Verdade que a clave irónica da close reading austeniana transforma o livro em obra aberta, pós-modernista em sentido amplo. Drible perfeito: com material na aparência “fútil” se fez um belo romance de ideias. Nada de confusões com a empáfia indígena que todos os dias presume ter descoberto a roda.»
Eduardo Pitta dá 5 estrelas ao romance de estreia de Helena Vasconcelos, na Sábado.
«Não Há Tantos Homens Ricos Como Mulheres Bonitas Que os Mereçam é, no seu programa algo provocatório e na sua quase perfeita execução, um exímio romance (podem aproveitar a frase em futuras badanas).»
Diz o crítico Mário Santos no Público (e a editora não se esquecerá da recomendação).
«Pensei esta manhã no sol de quase primavera, no que promete ser, no que brota. Um livro é, antes de mais, um acto de criação. qualquer coisa que surge onde antes não havia o que então surge. Não quero dizer que antes não havia nada, porque pode haver, por exemplo, uma terra árida, ou falsamente árida, que pode ser revolvida e de onde pode florescer algo. Um livro pode ser a forma disso que brota e que esteve anos em germinação.
Este breve intróito serve para dizer que se este é o primeiro romance de Helena Vasconcelos, ele é o resultado evidente de uma gestação longa, que se alimentou de leituras e amores. Esta criação madura é uma consequência natural, não obrigatória, mas natural, da grande leitora que a Leninha é.
Assim que comecei a ler este livro senti que ele era uma carta de amor à literatura, e também uma carta de amor a Jane Austen. Uma carta de amor é uma celebração e uma forma de prestar tributo ao outro, de dizer ao outro que se ama que os nossos dias não seriam os mesmos sem ele ou ela ou aquilo. Que a teia de encontros que a vida sempre é se alimenta muito particularmente daquele encontro.
Uma vida sem livros seria, sim, o nada de onde não poderia resultar este livro. Esta que podem ler neste romance é uma mulher que se alimentou dos livros porque tinha fome de vida. A personagem principal de "Não há tantos homens ricos como mulheres bonitas que os mereçam" tem como objecto de estudo a obra de Jane Austen. É uma jovem que se mescla com a vida da autora, com os seus caminhos, com os arquétipos, com os problemas, com a mesma procura: a procura que tem que ver com a felicidade, com a razão de estarmos aqui, com aquilo e com aqueles que fazem com que, por instantes, a vida e isto de estarmos vivos pareça menos absurdo, tenha signos que podemos decifrar. Mas Ana Teresa, nesta demanda amorosa, vai percebendo que o essencial está na busca, no agir, no impulso de existir e de querer sentir-se vivo. E que não há receitas.
Ana Teresa e Helena Vasconcelos desmontam um preconceito que, passados séculos sobre Jane Austen, continua enraizado na sociedade ocidental: a vida de uma mulher, sem os ardores do casamento e a justificação para o sentido da vida que os filhos representam, é uma vida vazia. Árida. Como se qualquer coisa de muito essencial, e que é corpo, lhes escapasse. É verdade que a vida profissional da mulher do século XXI, a sua inserção no espaço social, não tem comparação possível com o espaço reservado às mulheres no século XVIII. Mas agora como então há uma surpresa, e não raro desconfiança, em relação às pessoas (ou personagens) que parecem um fantasma, que não são de carne e osso.
Penso que Jane Austen padece, ainda, bastante, desse epíteto de pessoa que não é bem deste mundo. E não é deste mundo porque não se entende como é que uma pessoa que não está imiscuída no corpo do mundo (no sexo, no casamento, nos filhos) saiba tanto do mundo, possa escrever tão exemplarmente sobre o funcionamento da máquina complexa que é o mundo.
E se um livro for um filho?, e se for uma criação? E se um livro for a forma de falar de dinheiro e casamento, que é do que sempre se fala nos romances de Jane Austen? E se um livro for a forma de interrogar, e cito, "o que seria a felicidade e se o conceito seria diferente para qualquer mulher, tivesse vivido ela no século XVIII ou no século XXI. Sim, havia diferenças, sem dúvida, mas os dilemas mantinham-se: independência ou cativeiro? Carreira ou família? Paz e sossego ou excitação?". Posso dizer ainda de outra maneira: para que servem os livros?
Posso citar de novo e dizer que um escritor é "aquele que puxa os cordelinhos e transforma a vida das pessoas. Assumo o papel de demiurgo e faço avançar, nas mais diversas direcções, os intervenientes desta farsa a que chamamos vida".
Este é um salto que é preciso sublinhar: Helena Vasconcelos passou de leitora que encontra nos livros um instrumento de decifração da charada do mundo para criatura com capacidades demiúrgicas que faz avançar a roda, a roda, a roda - a vida.
Os romances de Austen são uma fotografia da vida do seu tempo, das relações pessoais, dos vínculos e convenções, mas são, sobretudo, uma fotografia do que Jane Austen via. E o que ela via só ela via, não era visto pela irmã nem pelo pai. Esse olhar foi vertido nos romances e faz-nos hoje pensar nas personagens como pessoas de carne e osso: afinal, há uma quase replicação nos romances, mutatis mutandis, da realidade que a circundava.
O livro de Helena Vasconcelos, através dos romances de Austen, faz também uma leitura da vida em sociedade. Não raro aproxima-se e replica personagens e situações; por exemplo, existe uma Rebeca na vida de Ana Teresa como existe uma Cassandra na vida de Jane Austen. Há no livro uma mistura de planos, cruzando pessoas e verosimilhança. Sob a estrutura romanesca, aparece um registo biográfico, factual, que revela aturada pesquisa. A ficção e a realidade como irmãs, ligadas pelo mesmo sangue.
E todos formulam de diferentes maneiras a mesma, a mesmíssima pergunta: como perseguir a felicidade, e como fazer isso com os constrangimentos do género.
Termino com uma interrogação: "seria possível a felicidade sem amor?" e "haveria realmente felicidade na experiência amorosa?".»
O texto de Anabela Mota Ribeiro na abertura do lançamento de 'Não Há Tantos Homens Ricos como Mulheres Bonitas Que os Mereçam', de Helena Vasconcelos. Foi no dia 2 de março, na Ler Devagar da Lx Factory, em Lisboa.
«Deste modo, Helena Vasconcelos sai vitoriosa da sua primeira incursão pelo romance. Com efeito, se Não Há Tantos Homens Ricos como Mulheres Bonitas que os Mereçam pode não ser uma obra-prima, está muito, muito longe de conter os “defeitos” de uma primeira obra. É, sem dúvida, uma obra de maturidade pessoal exprimindo a síntese conclusiva do pensamento de uma vida ligada à literatura e ao ensaio, privilegiando um fim de vida liberto mas sereno, despreconceituado mas sem alarde ou ostentação.»
Miguel Real, Jornal de Letras
Não Há Tantos Homens Ricos como Mulheres Bonitas Que os Mereçam fica disponível a 12 de fevereiro nas livrarias portuguesas. Este longo título é retirado de Mansfield Park, de Jane Austen, escritora que Helena Vasconcelos revisita, numa comédia de costumes do nosso tempo
«Em Olhando o Sofrimento dos Outros, o seu último livro, (que surge agora numa reedição portuguesa com algumas alterações), Susan Sontag virou-se decididamente para a análise da forma como todos nós, seres humanos, observamos e reagimos à representação da dor nos nossos semelhantes. As imagens de guerra, de massacres, de torturas que nos entram pela casa dentro, tanto em suporte fotográfico ou, cada vez mais, pela televisão, serão passíveis de desencadear um tão grande choque e repúdio que se torna impossível repetir tais horrores? A própria Sontag reconhece a ingenuidade desse desejo — “Quem acredita hoje que a guerra pode ser abolida? Ninguém, nem mesmo os pacifistas” (p. 13) —, uma vez que, nesta sociedade do espectáculo, estamos todos tão profundamente anestesiados (ou enfadados) que as cenas dramáticas, de tantas vezes reproduzidas, acabam por ser descartadas como “banais”. Sontag confirma que as imagens de guerra estão sujeitas tanto à interpretação como à manipulação e que, por isso, a noção de que esse imaginário poderá ter um efeito dissuasor é ilusório. Apesar de todo o horror que perpassa perante os nossos olhos, a violência é perene e nada se pode fazer contra essa evidência. (Sontag morreu antes de assistir às decapitações em directo, devidamente ensaiadas, levadas a cabo pelo ISIS mas refere o caso do jornalista Daniel Pearl, cuja execução no Paquistão, em Fevereiro de 2001, desencadeou (mais) um fenómeno mediático.)»
Helena Vasconcelos, Ípsilon
«De todos os escritores e pensadores que emergiram do movimento existencialista, Simone de Beauvoir terá sido a que melhor identificou, na sua obra, os choques entre os géneros, tanto na dimensão sentimental como na intelectual. No magistral estudo que é O Segundo Sexo, trabalho que engloba antropologia, sociologia, biologia e psicanálise numa escrita exemplar e imaginativa, deixou uma marca duradoura que alterou a percepção das relações entre os homens e as mulheres.
Em 1965, quando escreveu Mal-entendido em Moscovo, história destinada a integrar o volume A Mulher Destruída e depois retirada e publicada separadamente, Simone de Beauvoir tinha quase 60 anos. A sua relação muito particular com Sartre atingira uma determinada calma, depois de uma vida agitada, intelectualmente desafiadora e competitiva, politicamente marcante e fisicamente repleta de experiências tão exaltantes quanto difíceis, onde não faltaram os ciúmes, as recriminações e a violência muito burgueses.»
Helena Vasconcelos, Ípsilon
«Uma Coisa Supostamente Divertida que Nunca Mais Vou Fazer, o texto que fornece o título a esta colecção de ensaios – nove, no total, publicados entre 1993 e 2009 em várias revistas americanas – é um exemplo perfeito da sua técnica e do seu espírito. Contratado para escrever uma peça sobre um cruzeiro de luxo nas Bahamas – símbolo do hedonismo desenfreado ligado estreitamente ao verbo “mimar” que, como enfatiza o autor, constitui o refrão dos directores e promotores do navio, ironicamente chamado Nadir –, Wallace acaba por falar incessantemente da morte em todas as suas declinações, presente na claustrofóbica intimidade forçada entre tantos seres estranhos, num mar vasto e terrífico, e como uma sombra funesta, na assídua repetição do excesso e no tédio daí decorrente.»
Helena Vasconcelos, Ípsilon
"Num panorama editorial pequeno como o nosso, é importante que os críticos escrevam. Primeiro, porque os críticos são normalmente leitores dedicados e atentos, como o é Helena Vasconcelos, mas também porque, ao contrário de muitos académicos, acabam por ler mais, com mais regularidade e diversidade, contribuindo para a discussão de certas temáticas ou autores no espaço público. Segundo, porque os críticos conseguem chegar a um público mais alargado através da linguagem que é mais acessível, mais aberta, ao contrário de muitos académicos que acabam a escrever para si mesmos e para os seus egos.
Por isso, com ensaios mais livres, bem documentados, fundamentados e bem escritos, os críticos - e, neste caso, Helena Vasconcelos com o seu livro "Humilhação e Glória" - conseguem problematizar questões que, por vezes, a academia acaba por tornar herméticas."
Raquel Ribeiro, Ípsilon
"É através de um vasto percurso literário que Helena Vasconcelos, também uma grande promotora da leitura, nos faz entrar por dentro de uma história particular da expressão das mulheres na literatura, na política, nas ciências, nas artes plásticas ou, tão somente, pela particularidade do seu corpo. Repleto de remissões, figuras, ligações, histórias e detalhes, Humilhação e Glória exalta o ensaio literário de autor, género infelizmente escasso em Portugal."
Filipa Melo, Sol
Humilhação e Glória, de Helena Vasconcelos, chega às livrarias a 3 de fevereiro. Segundo a autora, este ensaio “refere a vida de algumas mulheres singulares, importantes, fascinantes e excitantes. Mas não é um livro sobre mulheres. Ou antes: não é um livro "só" sobre mulheres.”
Temos cinco exemplares autografados para oferecer aos leitores que aceitarem o desafio de dizer qual a figura pública feminina que mais os influenciou e porquê. As respostas devem ser enviadas para o e-mail quetzalblog@sapo.pt até 2 de fevereiro. As cinco melhores frases serão escolhidas pela autora e os selecionados receberão um exemplar autografado de Humilhação e Glória.
«Creio que poucas pessoas serão indiferentes ao tema da infância, mesmo que seja de uma forma egocêntrica, em torno das suas próprias memórias. Mas a verdade é que é difícil para nós, adultos, compreendermos o que se passa dentro da cabeça das crianças quando a nossa própria infância se vai diluindo na memória, cheia de lacunas e de mistérios, simultaneamente familiar e totalmente estranha, como um país longínquo onde habitámos um dia mas que não temos a possibilidade de revisitar. Olhamos para trás com sentimentos muito complexos. Porém, as marcas, boas e más, são indeléveis e podem provar estranhas reacções, ressuscitar fantasmas e fazer emergir a qualquer instante patalogias e neuroses. Esquecemos muita coisa. Recordamos ninharias. A nostalgia invade-nos. Se temos filhos e netos projectamos neles, mais ou menos conscientemente, a nossa própria infância. As histórias que envolvem brutalidade e violência, privação e indiferença, chocam-nos, entristecem-nos e revoltam-nos com particular acuidade. Também são as crianças que nos enternecem mais, que nos alegram ao ponto da cegueira e que determinam amiúde as nossas escolhas e opções de vida.»
De A Infância É Um Território Perdido, de Helena Vasconcelos.
A fotografia é de Robert Doisneau.
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