«Cidadão nascido nos Açores e europeísta convicto, é o que a badana do livro reza sobre o autor do livro "Da Europa de Schuman à Não Europa de Merkel". Eduardo Paz Ferreira é, com o seu humor, sagacidade e ironia, um dos maiores críticos desta Europa realmente existente e um dos maiores defensores de uma utopia continental. Se o sonho vale sempre, resta saber se ele é possível no quadro da União Europeia que temos.
Esta Europa é reformável?
Nós todos, os cidadãos europeus, gosto muita dessa ideia mesmo que ela na prática não corresponda a nada, debatemo--nos com esta pergunta. Recuperando a conhecida frase de Gramsci que fala do optimismo do coração e do pessimismo da razão, acho que depende muito da coragem e da capacidade de actuar. Se a questão é se a Europa é reformável, com esta nova Comissão, é óbvio que não. Pedro Adão e Silva dizia no outro dia que este livro é uma tragédia, apesar de eu próprio ter tentado, no capítulo final, arranjar algumas pálidas razões de optimismo, como o Parlamento Europeu ter assumido a tarefa de aprovar o presidente da Comissão Europeia e começarem a aparecer alguns pequenos sinais de reformismo pela voz do actual primeiro-ministro italiano. Esses sinais são semelhantes àqueles que existiram há uns tempos quando François Hollande, depois de ser eleito, fez aquele discurso em que dizia: Europa, cheguei, estou aqui e vou convencer toda a gente de que é preciso acabar com a austeridade. E depois fez aquilo que toda a gente sabe...
O que garante que Renzi vá ser diferente de Hollande? Lembro-me que a última vez que o entrevistei tinha muitas esperanças no novo presidente francês.
É verdade, hoje em dia passo o tempo a penitenciar-me desses erros e a dizer que sou uma viúva do Hollande: ele tem uma série de senhoras a quem vai visitar de motoreta e depois tem um número infinito de viúvas que acreditaram que ele ia ser um líder esclarecido da França e da Europa, e depois saiu aquele trapalhão sem ponta por onde se lhe pegue.»
Eduardo Paz Ferreira entrevistado por Nuno Ramos de Almeida no i.