«Porque decidiu responder por email em vez de fazer uma entrevista por telefone? Porque prefere escrever sempre que pode?
Sou esquisito ao telefone, ainda mais quando faço entrevistas. Leio-as mais tarde e consigo ver que por causa do meu nervosismo acabei por transmitir ideias enigmáticas e até enganosas em relação ao que realmente tinha para dizer.
O seu primeiro romance foi agora publicado pela primeira vez em Portugal. Isto não lhe parece estranho, quando estamos a falar de um livro que foi lançado originalmente em 1991?
Bom, a única coisa que sentia sobre esta publicação em Portugal era prazer. Mas isso foi até ter lido esta pergunta. Pergunto-me se não deveria ter estado revoltado com o país durante todos estes anos.
Tem uma média de dez anos entre livros e só publicou quatro. Não leve a mal esta pergunta, mas o que faz para viver?
Já ganhei a vida de diferentes maneiras, de apanhar cerejas a descarregar camiões que transportavam molhos de “New York Times” para os pontos de venda, durante a madrugada. Estive empregado como responsável pelas batatas fritas na cozinha de um restaurante quase durante 30 minutos. Fiz as coisas que habitualmente os escritores fazem, dei aulas, fiz revisão de texto… O trabalho que fiz durante mais tempo foi como alfarrabista. A Elsa trouxe quase sempre dinheiro para casa e entre os dois recebemos três pequenas mas importantes heranças, que foram uma grande ajuda. A história profissional dela é tão variada como a minha mas foi durante muito tempo designer têxtil. Trabalhámos no Botsuana, em África, durante cinco anos como directores do programa do Peace Corps [organização de voluntariado gerida pelo governo dos EUA]. Tivemos alguns prémios, uns bónus, direitos de livros vendidos para filmes que acabaram por não resultar em filmes… Enfim, percebemos cedo que para nós o lema mas inteligente seria “manter baixas as expectativas”. Vivemos durante 53 anos menos os cinco de África numa pequena casa numa quinta construída em 1840. Primeiro alugámo-la por 55 dólares por mês, depois comprámo-la, mais os quase oito mil metros quadrados de terreno, tudo por 20 mil dólares. O nosso carro é um Saturn de 1998.»