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«“A Memória de Shakespeare e Nove Ensaios Dantescos” é o décimo volume da belíssima colecção que a Quetzal tem dedicado a Borges. Divertimentos, jogos de pilhagem e recriação, ensaiando para o lado da fábula. Um místico que procedia, passo a passo, com a meticulosidade de um grande espírito científico e o prazer de qualquer miúdo escaqueirando um relógio para lhe espreitar as entranhas. Falar de um livro de Borges é falar de todos, porque a sua obra, as suas narrativas cruzadas, todas se combinam, compondo uma gloriosa partitura que se impõem à própria biografia. Ele aborda os textos, o conhecimento com uma elegância e tenacidade empenhada em mapear o pensamento, impor-lhe táctica e estratégia, subindo na hierarquia militar até se generalizar nas concepções radiantes do mundo. Sem buscar um envolvimento comprometido com as tragédias do seu tempo, levantar um dedo acusador, a sua obra espelha os seus conflitos, como se a origem do mal se confundisse com a do bem, a vítima servisse o reflexo do seu carrasco, este acatando ordens num momento e noutro formulando-as, tentanto em vão dominar algo que o ultrapassa. O destino de todos os homens dependente de um gesto trivial, não fossem as suas infinitas consequências.»
Diogo Vaz Pinto, i