«As palavras explicam mais do que mil imagens de um conflito, ou pelo menos tentam pensá-lo com a relativa distância, na certeza, porém, de que um simples clique vencerá sempre a melhor frase armada. «Quando há fotografias, uma guerra torna-se real», recorda-nos Susan Sontag, percorrendo esse território povoado por quem assiste à barbárie. Frisemos: «não há guerra sem fotografia», como observou o esteta bélico Ernst Jünger em 1930, insistindo na analogia entre a câmara e a arma, e aos disparos para que uma e outra estão vocacionadas.
Oito anos mais tarde, Virginia Woolf publicava Os Três Guinéus, reflexões incómodas sobre as origens da guerra. É por aí que começa Olhando o Sofrimento dos Outros, ou Regarding the Pain of Others, com o qual Susan Sontag retoma o tema da fotografia, depois de um ensaio dedicado ao mesmo assunto, datado de 1977. À semelhança desse volume, as 125 páginas daquele que foi o seu último livro, editado em 2003, um ano antes da sua morte, lançado agora em versão portuguesa, apresentam-se livres de imagens. Afinal, é tempo de analisar a saturação.»
Maria Ramos Silva, Sol