«De todos os escritores e pensadores que emergiram do movimento existencialista, Simone de Beauvoir terá sido a que melhor identificou, na sua obra, os choques entre os géneros, tanto na dimensão sentimental como na intelectual. No magistral estudo que é O Segundo Sexo, trabalho que engloba antropologia, sociologia, biologia e psicanálise numa escrita exemplar e imaginativa, deixou uma marca duradoura que alterou a percepção das relações entre os homens e as mulheres.
Em 1965, quando escreveu Mal-entendido em Moscovo, história destinada a integrar o volume A Mulher Destruída e depois retirada e publicada separadamente, Simone de Beauvoir tinha quase 60 anos. A sua relação muito particular com Sartre atingira uma determinada calma, depois de uma vida agitada, intelectualmente desafiadora e competitiva, politicamente marcante e fisicamente repleta de experiências tão exaltantes quanto difíceis, onde não faltaram os ciúmes, as recriminações e a violência muito burgueses.»
Helena Vasconcelos, Ípsilon