Fotografia de Pedro Loureiro
Porque sabemos tão pouco sobre História africana?
Não sei... Mas no caso do Brasil, mais ligado a África, um país de matriz africana, existe uma maior produção académica sobre a História de África, ainda que haja um fraco conhecimento da cultura africana contemporânea - sobre a música, por exemplo. O Brasil cortou com África quando acabou a escravatura. Em Portugal, existe um maior conhecimento da cultura contemporânea africana, mas, sobre a História, ainda há um longo caminho a percorrer. Existe um saber académico, mas este não passa para fora. E o que se sabe é apenas numa perspetiva, muito redutora. No que diz respeito ao grande público, há uma certa mitologia que ficou. Este livro sobre a rainha Ginga pode surpreender em Portugal porque vai mostrar uma outra perspetiva: a africana.
Mas houve outros livros dedicados à rainha Ginga.
Houve alguma literatura colonial, ou seja, ficção produzida por portugueses, utilizando o mito da rainha a favor do mito da construção do império. Quando as figuras se agigantam muito, todos os poderes têm a tentação de usá-las a seu favor... Depois da independência de Angola, foi publicado, pelo menos, um livro com a perspetiva oposta, hipernacionalista, transformando a rainha Ginga num ícone do nacionalismo angolano - o que também é absurdo. A rainha Ginga não é angolana. Ela atuou no espaço geográfico onde, hoje, se situa Angola mas que, então, não existia. É como Viriato. Ele não é um herói português, é um herói contra Portugal. A rainha Ginga não lutou por uma ideia de Angola. Pelo contrário: se ela tivesse triunfado, não teria existido Angola como hoje a conhecemos.
Ler mais: http://visao.sapo.pt/jose-eduardo-agualusa-pela-primeira-vez-sinto-que-posso-dizer-que-sou-escritor=f784361#ixzz34QIMxkXk