«Poucos, como o argentino Jorge Luis Borges, terão sabido tratar do leitor com tamanha adulação, colocando-o no papel principal das suas histórias. No prólogo da primeira edição de “História Universal da Infâmia” (Quetzal, 2015), escrito em 1935, Borges escreveu isto: «Por vezes creio que os bons leitores são cisnes ainda mais tenebrosos e singulares que os bons autores.»
Referindo que os «exercícios de prosa narrativa» que formam o livro derivam das suas releituras de Stevenson e de Chesterton – e também dos primeiros filmes de Von Sternberg e de alguma biografia de Evaristo Carriego -, Borges radiografa desta forma as grandes histórias presentes neste pequeno livro: «Abusam de alguns processos: as enumerações díspares, a brusca solução de continuidade, a redução da vida inteira de um homem a duas ou três cenas.»
Pedro Miguel Silva, Deus Me Livro