É interessante vê-lo quando chega ao café: a porta abre-se e durante dois ou três segundos nada acontece, a pausa teatral antes do galã aparecer no palco.
Surge então, grande, pesado, a cabeça leonina erguida, os olhos flamejantes. Entra, roda sobre si mesmo a fechar a porta, cumprimenta este, acena a outro, a passos medidos procura uma mesa.
Escreve, pinta, canta, representa, esculpe, compõe, é pianista talentoso, realiza performances, vê-se com frequência na televisão, ouve-se com frequência na rádio.
Raro passa semana sem que num ou noutro jornal não apareça escrito seu, ou não se fale das suas muitas actividades.
A minha inveja, porém, vai menos para o que ele faz, do que para o modo como se mostra.
Eu francamente gostaria de saber entrar assim no café, vestido de preto, o grande cachecol vermelho enrolado no pescoço, cabeça ao alto, e aquela esplêndida segurança de si mesmo.