Daniel Galera em entrevista ao jornal i:
O que escreveu na introdução de "Barba Ensopada de Sangue" [sobre a relação de alguém que ainda não sabemos quem é com o tio que morreu de forma misteriosa], por exemplo, faz parte da sua vida pessoal? Ou não coloca muito do que é seu nas suas histórias?
Depende da história. O "Barba Ensopada de Sangue" é um romance fictício, a história é inventada. Mas claro que há aspectos da minha vida pessoal e da minha visão de mundo que servem de matéria prima para certos episódios e ambientes. A paixão por natação, por exemplo, é algo que compartilho com meu personagem. Não há ficção sem motivação subjectiva.
Por exemplo, a forma como aborda relações familiares parece muito pessoal e vivida. É porque o é de facto ou é uma questão de "arte do autor"?
Eu não chamaria de arte, mas é um trabalho em cima de um hábito de percepção. Vivo atento às minhas próprias experiências e às pessoas a meu redor, tentando me colocar no lugar delas. A força emocional das relações humanas costuma estar nos detalhes, um silêncio, uma fala dissimulada, um gesto. É preciso guardar um catálogo imenso dessas percepções que nos afectam, para depois poder recombiná-las na ficção, a serviço dos personagens e da história.