«Uma praia é uma mitologia. Pouco importa se gostamos mais ou menos de praia, e não importa onde fazemos praia. Esse verbo, “fazer”, diz tudo, a praia é uma actividade, faz-se, mesmo quando não fazemos nada o tempo todo. Porque a praia não é apenas uma estância, uma experiência, uma temporada, é também uma memória que nos define. Parafraseando Camões: segundo a praia que tiverdes, tereis um entendimento. […]
Talvez alguém encontre uma dessas suas praias num livro de Ramalho Ortigão chamado “As Praias de Portugal: Guia do Banhista e do Viajante” (Quetzal). Estávamos em 1876, era outro país, outros hábitos, de tal modo que neste voluminho nem aparece o Algarve, que mais tarde seria quase sinónimo da praia portuguesa. Também não faria parte do meu guia pessoal, não por causa do Algarve, que está de todo inocente, mas do meu Algarve, uma mitologia de experiências desgostosas, decepcionantes e desconfortáveis, que prefiro esquecer, mas que nunca esqueço.»
Pedro Mexia, Expresso