«Numa entrevista a uma rádio francesa muitos anos depois de ter sido publicada a sua História Universal da Infâmia, Jorge Luis Borges referiu-se ao título como resultado da intenção de um jovem em chocar os seus leitores com uma “palavra bombástica”: infâmia.
Era um livro que ele encarava com algum desprezo, chamando-lhe o “jogo irresponsável de um tímido que não ousou escrever contos e se distraiu a falsear a tergiversar (sem justificação estética alguma vezes) histórias alheias”. Era o olhar distante de um escritor que já tinha produzido os seus textos mais emblemáticos, como Ficções (1944) ou O Aleph (1949,) perante a sua primeira experiência na prosa, algo de que estava longe de se orgulhar, mas onde críticos e biógrafos apontam traços do que viria a ser a sua marca literária: a imaginação delirante, a capacidade de, efabulando, criar personagens míticas, e de entrar e de desmontar a mente humana a partir dos pormenores mais mundanos.»
Isabel Lucas, Ípsilon