Como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
— ou a violenta cadela?
Como o estar egípcio emudado
no salão do navio de espelhos
como o nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos
Como ter-te procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto
Como os lábios prendem o copo
como o copo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão
E como se a vida fosse o foco
de um baço, lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor
Um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor
Um poema de Mário Cesariny de Vasconcelos escolhido por Vasco Graça Moura para o livro 366 Poemas que Falam de Amor.