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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

«Em Olhando o Sofrimento dos Outros, o seu último livro, (que surge agora numa reedição portuguesa com algumas alterações), Susan Sontag virou-se decididamente para a análise da forma como todos nós, seres humanos, observamos e reagimos à representação da dor nos nossos semelhantes. As imagens de guerra, de massacres, de torturas que nos entram pela casa dentro, tanto em suporte fotográfico ou, cada vez mais, pela televisão, serão passíveis de desencadear um tão grande choque e repúdio que se torna impossível repetir tais horrores? A própria Sontag reconhece a ingenuidade desse desejo — “Quem acredita hoje que a guerra pode ser abolida? Ninguém, nem mesmo os pacifistas” (p. 13) —, uma vez que, nesta sociedade do espectáculo, estamos todos tão profundamente anestesiados (ou enfadados) que as cenas dramáticas, de tantas vezes reproduzidas, acabam por ser descartadas como “banais”. Sontag confirma que as imagens de guerra estão sujeitas tanto à interpretação como à manipulação e que, por isso, a noção de que esse imaginário poderá ter um efeito dissuasor é ilusório. Apesar de todo o horror que perpassa perante os nossos olhos, a violência é perene e nada se pode fazer contra essa evidência. (Sontag morreu antes de assistir às decapitações em directo, devidamente ensaiadas, levadas a cabo pelo ISIS mas refere o caso do jornalista Daniel Pearl, cuja execução no Paquistão, em Fevereiro de 2001, desencadeou (mais) um fenómeno mediático.)»

 

Helena Vasconcelos, Ípsilon

 

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A recensão de Pedro Mexia, no Expresso, ao romance Reprodução, do escritor brasileiro Bernardo Carvalho.

 

«O romance baseia-se numa sequência de interrogatórios policiais, dos quais só ouvimos as respostas dos suspeitos, e que por isso parecem monólogos exasperados e paranóicos. As declarações, hesitações e interjeições permitem-nos depreender o que está a ser perguntado ou sugerido, mas não eliminam os hiatos, as ambiguidades, as versões diferentes e as pistas enganadoras. Bernardo Carvalho demonstra uma consciência aguda do mal no mundo contemporâneo, mesmo quando é um mal trivializado. Tal como em romances anteriores, as questões ligadas à viagem, à globalização e ao etnocentrismo são determinantes, bem como a violência, nas suas diversas manifestações.»

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«A Zona de Interesse é talvez o romance mais comprometido de Amis, e seguramente o mais conseguido, o que não deixa de ser relevante se pensarmos que O Segundo Avião (2008), não sendo uma narrativa de circunstância, reporta ao 11 de Setembro, tema familiar à maioria dos leitores. Tal como há sete anos, também agora nenhuma linha se afasta da realidade, ilustrada por factos documentados. Dir-se-ia que a quota ficcional é um pretexto para contar o indizível. A diferença é que o livro sobre o ataque às Torres Gémeas é uma obra de não-ficção (ainda que inclua um perfil ficcionado de Muhammad Atta), enquanto A Zona de Interesse é um romance clássico no mais amplo sentido do termo. Pode-se dizer que Amis dribla os que até aqui o acusavam de vénia ao ar do tempo. Desta feita, o passado regressa sob a forma de um murro no estômago. Cinco estrelas

 

Eduardo Pitta, Da Literatura

 

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José Mário Silva escreveu no Expresso sobre A Liberdade do Drible, de Dinis Machado.

 

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«As 23 crónicas futebolísticas reunidas neste volume foram publicadas entre 1978 e 1996 – a maior parte no então trissemanário desportivo “A Bola”, as restantes no “Tal & Qual”, em “O Jornal”               e no “Guia da Semana”. Apesar da sua qualidade desigual, ao lê-las é reconfortante verificar que Dinis Machado era daqueles escritores que nunca deixavam de o ser, mesmo quando as circunstâncias da vida o levavam a alinhavar prosas para a imprensa, sabendo que no dia seguinte já só serviriam para embrulhar peixe. O certo é que estas crónicas, décadas depois, ganharam a dignidade da edição em livro – e bem a merecem. Merecem justamente porque escapam ao mero comentário a realidades que a distância temporal tornaria incompreensíveis aos leitores de hoje, rememorando e recriando, em vez disso, histórias que podem ser lidas com proveito por leitores de qualquer época.»

Recensão de Isabel Lucas, no Ípsilon, ao mais recente romance de Martin Amis, A Zona de Interesse.

 

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«É, sobretudo, uma zona de desconforto, de grande perturbação, este décimo-quarto romance de Martin Amis – e essa constatação é a primeira grande conquista do escritor que arriscou investir num tema tão explorado por tanta literatura, incluindo a sua. Depois de ter falado dos campos de extermínio nazis em Time’s Arrow (1991) e de ter escrito sobre as vítimas da União Soviética de Estaline em Koba, o Terrível (2003), o escritor britânico situa o seu mais recente romance nos bastidores de um campo de concentração nazi na Polónia, ou seja, no lado onde vivem os oficiais das SS: uma normalidade feita de encontros amorosos semi-clandestinos, festas, jantares, arranjos sexuais, espectáculos, humor pícaro e um odor que denuncia o mal.»

Em O Outro Lado do Paraíso, Paul Theroux navega entre memória e desejo, esperança e desespero, salvação e condenação. Um emocionante regresso a um terreno sobre o qual ninguém escreveu com tanto brilhantismo como Theroux. Leia no Ípsilon a recensão de Helena Vasconcelos.

«Resta dizer que, apesar de todas as tropelias e misérias a que expõe o seu “cavaleiro de triste figura” no bojo tenebroso do continente negro, o grande escritor que é Paul Theroux não consegue camuflar o seu amor por África. Mesmo que já não haja heróis, mesmo que o rico e condescendentemente generoso “homem branco” seja agora um espantalho derrotado, mesmo que já não haja escolas ou hospitais para construir, mesmo que, como Gala diz a Hock, “primeiro tiram-te o dinheiro, depois comem-te vivo”, mesmo que a arcádia imaginada se tenha convertido num inferno de violência, de doença e de cupidez, mesmo assim Theroux guia o seu próprio Virgílio e, tal como Dante (citado em epígrafe), percorre os ciclos do Inferno, do Purgatório e do Paraíso e ensaia sempre uma redenção.»

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A recensão de Hugo Pinto Santos, na Time Out, ao romance de estreia de Andréa Zamorano, A Casa das Rosas, um livro que tem surpreendido (e agradado) os leitores.

 

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«A Casa das Rosas não é apenas a narrativa da jovem que se vê encurralada num cativeiro de luxo – habilmente descrito: “A minha casa era o sarcófago imperial” – nem a exposição (formalmente quase irrepreensível, salvo algum excesso expressivo) de uma situação familiar sufocante e malsã. Um ecossistema em que o espectro do incesto, os logros da transferência e a pressão psicológica montam armadilhas difíceis de contornar para qualquer autor. E no entanto, este livro não deixa de ser também isso. Mas é, igualmente, um hábil contraponto romanesco à reconstrução histórica levada a cabo nos seus interstícios.»

«Pedro Vieira aposta num retrato abrangente de um país refém de medos, incapaz de se libertar do fantasma de um ditador, um “país pobre com uma boa rede de fibra óptica”, “cheio de gente em desespero mas sem vontade de partir a loiça, de partir a fibra, no lugar da primavera dos árabes o outono dos orgulhosamente sós”. É uma escrita crítica, cheia de uma ironia ácida, onde cada palavra encontra o seu lugar num intrincado jogo de sentidos que os leitores que já tinham lido Vieira no seu romance de estreia, Última Paragem, Massamá — sobre a vida num subúrbio da linha de Sintra —, não estranham. O olhar do escritor sobre o seu tempo e o seu lugar é inconformado e sustenta-se numa observação detalhada de costumes, na atenção à linguagem e à circunstância que determina cada existência mais ou menos ficcionada, mas sempre colada a um real que é o que sobretudo lhe interessa captar.»

Isabel Lucas, Ípsilon

 

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«Se não tivesse outras qualidades (que tem), esta biografia teria a de ser a primeira de Agostinho da Silva. Ele que, entre outras coisas, foi um grande biógrafo, encontra aqui um amplo terreno para um percurso que parece pedir o chavão de maior do que a vida. Apesar de um estilo por vezes demasiado encorpado, com frases muito extensas, de labor intrincado, há outros aspectos a ter mais em conta: os temas versados (uma imensidão), os anos cobertos (uma vida de quase 90 anos), a multiplicidade de fontes (entre próprias e alheias, mais as primeiras, diga-se).»

 

Hugo Pinto Santos, Time Out

 

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«Com efeito, não existe passado literário em Portugal para o estilo de Pedro Vieira, o qual não se resume a adornar a narração de uma história, uma simples história (pecado maior do atual romance português),mas, tal como o de Raul Brandão e o de Lobo Antunes, a evidenciar, por meio da caracterização das personagens, segundo uma leitura satírica, traços fundamentais da cultura portuguesa e do comportamento idiossincrático dos portugueses, revolucionados neste princípio de século.

A obra do autor reflete, justamente, esta revolução mental e comportamental que sucede todos os dias à nossa frente e que escritores mais velhos, obcecados com o Portugal saído do 25 de Abril, não traduzem na sua obra. Há, indubitavelmente, uma atualização temática da sátira em Pedro Vieira, que se junta, assim, na sua prática, a Rui Zink e a Manuel da Silva Ramos.

É, assim, por força do seu estilo, que a obra de Pedro Vieira, constituída apenas por dois livros de ficção, se singulariza no panorama do romance português dos princípios do século XXI, ganhando jus, por mérito próprio, a ser considerado um autor de culto entre os leitores de 20 e 30 anos (que dominam o jargão suburbano americanizado e informático dos seus livros) e, provavelmente, no futuro, da generalidade do público.»

Miguel Real, Jornal de Letras

 

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