«O telemóvel deu sinal de mensagem. O detective leu-a. Era do sargento Mascarenhas. Dizia que tinha mais alguns dados sobre a vida de Ávila. Pouco, portanto. Reparou que, mesmo com a sua sweat-shirt com capuz e alças descaídas, Hermes parecia a discrição em pessoa. Movia-se naquelas ruas como em casa. E talvez fosse a sua casa, pensou o detective. O olhar de Hermes vagueava incessantemente por toda a rua. Lendo os movimentos das pessoas, como só ele conseguia fazer. Quando algo estava para acontecer, o rapaz percebia nos pequenos gestos dos junkies ou das prostitutas. Ou mesmo dos dealers. Parecia um gato que sentia a mudança do tempo. Sorriu ao ver o que tinha acontecido à pintura que os funcionários da câmara tinham feito por cima de uma enorme parede que estava cheia de graffiti e tags. Como se a tinta branca conseguisse erradicar a fúria naquelas ruas.»
De L. Ville de Fernado Sobral. Apresentado hoje, às 19h00, na Ler Devagar | Lx Factory por Zé Pedro.