Um excerto do excerto de Deserto Sem Saída, de Mohamed Dib publicado no blogue Pirra.
«E agora que a todas deu nome – tanto quanto podemos pensar – ele descansa. Enquanto isso, trinca um fruto a ele oferecido pela mulher, também ela nua, tal como a extraiu de si próprio, nua e passeando por esse jardim. Em troca desta dádiva, desta cortesia, ele recita-lhe os nomes que acabou de atribuir às coisas, que, até aí, não tinham nome nenhum. Ela senta-se e, enquanto escuta, com um seio esmagado contra o flanco do homem, a longa enumeração, a bela adormece. Ele repara nisso, parece compreender que é a resposta mais justa à sua fastidiosa litania. Mudo, contempla-a no seu sono. Certamente lembra-se, nesse momento, de que ela é a única que ainda não recebeu nome. E nós ouvimo-lo dar-lhe um.
- Hawa – diz ele.
Olha para ela; repete:
- Hawa.
- Sim – diz ela, no meio do seu sono.
Este “sim” atravessa a grade e ouvimo-lo chegar até nós a aflorar-nos com a frescura de uma brisa.
Mas, mal ela proferiu esta aprovação – e aí reside o artifício que ele usou – o efebo sem idade volta a pegar nela e refunde-a nele, tornando-se o hermafrodita do fim, como já fora o do início. Assim o hermafrodita coroado, o real enigma, é ele, tal como se apresenta diante de nós.»