«No início deste ano, Magris assinou com outros intelectuais (nomeadamente Umberto Eco, Salman Rushdie, Julia Kristeva, Fernando Savater e António Lobo Antunes) um manifesto de Bernard Henri-Lévy intitulado “Europa ou caos?”, onde se diz que a Europa – como “ideia”, como “sonho”, como “projeto” – “não está em crise, está em vias de morrer”. Embora concorde com a denúncia do manifesto, ao assiná-la sentiu um certo incómodo: “A verdade é que não me parece que os intelectuais sejam mais clarividentes quanto aos problemas que dizem respeito a todos. Não gosto de ver os escritores e outros artistas elevados ao estatuto de sacerdotes de uma religião laica, como se compreendessem melhor a realidade do que as pessoas que não escrevem ou que não criam.” Quanto ao eventual melhor conhecimento que os escritores terão da natureza humana, desvaloriza-o: “Talvez isso seja verdade, mas conhecem a natureza humana de um ângulo que não é necessariamente o mais importante para a vida política de um país. Não podemos aplicar os mesmos critérios à minha loucura e ao problema das crianças que não têm escola.”»
Excerto da entrevista que Claudio Magris concedeu a José Mário Silva, publicada no suplemento Atual, do Expresso.