«Jorge disse que não ia voltar, enquanto eu não aprendesse a ser uma esposa melhor. Disse-me que não se importava que lhe tocasse com o meu braço, a minha perna ou o meu pé, se estiver limpo, quando estamos a dormir, mas não envolvê-lo como uma segunda pele. Perguntei-lhe como é que isso podia ser, se eu já raramente o via e ele disse-me: ainda bem para ti. Disse que as pessoas mentem sempre sobre as razões por que se vão embora e que importância é que isso tem? Bloqueei-lhe a saída para ele não se ir embora e implorei-lhe que não fosse. Ele pôs-me as mãos nos ombros e depois esfregou-me os braços como se quisesse aquecer-me e eu pus as mãos na sua cintura. Perguntei-lhe como é que esperava que eu desenvolvesse competências como esposa, se não tinha um marido com quem praticar e ele respondeu que esse era o tipo de pergunta que contribuía para a minha solidão. Perguntei-lhe porque é que estava a tentar tapar-me os olhos com respostas que apenas tentavam classificar as minhas perguntas e também porque é que ele andava a agir de uma forma tão estranha ultimamente, de onde vinha o seu problema com a forma como eu dormia com a minha perna sobre a dele, porque é que ele insistia em partir, porque é que estava a esforçar-se tanto para ser duro em vez de ser apenas o Jorge. Então, puxou-me para si pediu-me, por favor, que me calasse, que parasse de tremer, que deixasse de bloquear a porta, que deixasse de chorar e deixasse de amá-lo.»