"Em "Sofonisba", quase todas as personagens são bastante cultas e bastante loquazes, propensas a teorias estéticas, com alusões a Trakl, Manrique, Morandi ou Warburg. O próprio narrador, Carlos, um alter ego pouco disfarçado, expõe as suas teses sobre tradução enquanto "evidência iluminante", o remorso como chave da decadência portuguesa, bem como a convicção de que os anos 60 foram "uma boa merda". As embirrações de Carlos, proclamadas com evidente gosto, ecoam as do autor empírico, que não aprecia vanguardistas, sindicalistas e "pederastas", sem esquecer católicos progressistas, com a sua indispensável "ternurinha". Carlos é um burguês que pratica a joie de vivre burguesa e assume as desagradáveis caturrices burguesas, hostil a tudo o que lhe pareça "existencialista", ou lúmpen, ou "possidónio", e sempre muito a favor da arte clássica, do individualismo e dos avanços libidinosos."
Pedro Mexia, Expresso