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"Todos nós vivemos imersos no tempo. É ele que nos molda e sustém. Mas também é ele que nos atraiçoa. Eis a lição que Tony Webster, o subtil e evasivo narrador do último romance de Julian Barnes, aprende tarde na vida, ao querer dar um sentido ao passado. Já na reforma, tranquilo na sua solidão (mantém um contacto caloroso mas pouco regular com a ex-mulher e com a filha), recebe um misterioso eco da juventude, quando a mãe de uma namorada ocasional da adolescência, com quem não se chegou a envolver de forma séria, lhe deixa em testamento o diário de um dos seus melhores amigos: Adrian Finn. Ele era o mais inteligente e promissor do seu grupo de amigos, mas suicidou-se, lançando com a sua morte uma sombra sobre os companheiros. Tony recupera então, pouco a pouco, as memórias dessa amizade antiga e desse amor que não chegou a ser, mergulhando na matéria «mutável» do passado, com os seus abismos e armadilhas, as suas verdades voláteis e segredos dolorosos. Barnes conduz Tony até à revelação dos seus erros, da sua cegueira, da dor que inflingiu aos outros sem se aperceber. E fá-lo com tal mestria que o desenlace da história, quando chega, é tão poderoso e surpreendente para o protagonista como para o leitor. Só por esta precisão narrativa, The Sense of an Ending seria sempre um grande livro. Mas a escrita de Barnes — com as suas frases perfeitas, por vezes a raiar o sublime — torna-o uma obra-prima."
José Mário Silva, Expresso