«Para Píndaro não há empates. O acontecimento fundamental da vida é a vitória. Não basta por isso a mera participação Toda a disputa é individual. Não há desportos de equipa na antiga Grécia. Cada competidor está sozinho, mesmo quando representa uma casa, uma família, uma aldeia, uma cidade ou uma nação. Apenas a vitória consegue anular a solidão máxima da disputa. O campeão granjeia a fama e a glória. O triunfo altera quem o obtém. Permite o reconhecimento, uma identificação e, assim, um lugar para ser. O brilho esplendoroso da vitória amplia. Pontecia a vida. Ao vencer-se é-se maior do que se era. É-se falado. Transcende-se o espaço que se ocupa e o tempo durante qual se existe. Expenade-se e propaga-se. Mas a derrota é uam desgraça. Uma calamidade. Quem perde não apenas é esquecido como também não quer ser lembrado. A derrota extirpa a simples hipótese de ainda ser possível. Deixa o perdedor entregue a si. Desamparado. Sem ilusões. Não pode senão sobreviver-se. Infame.»
De Odes, de Píndaro, na tradução de António de Castro Caeiro.