Luar na Lumbre, «Chove em Santiago»
«Chove en Santiago/ meu doce amor./ Camelia branca do ar/ brila entebrecida ô sol.»
Poema de Federico Garcia Lorca, «Seis Poemas Galegos», 1935
Álbum Cabo do Mundo, 1999
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Luar na Lumbre, «Chove em Santiago»
«Chove en Santiago/ meu doce amor./ Camelia branca do ar/ brila entebrecida ô sol.»
Poema de Federico Garcia Lorca, «Seis Poemas Galegos», 1935
Álbum Cabo do Mundo, 1999
Kenny Chesney, «Hemingway Whiskey»
[AUTORRETRATO]
Cabecilha aos 8 anos, ninguém suspeitou
que aquele que tinha mais medo era eu.
O ruivo Barrientos e o louco Herrera
foram os meus capitães mais fiéis
naquelas manhãs rosadas de Quilpué
quando tudo se desmoronava à minha volta,
mas Bernardo Ugalde foi o meu amigo mais sábio.
Nas vésperas do Mundial de 62
Raúl Sánchez e Eladio Rojas apoiavam-nos
na defesa e no meio campo: os avançados
éramos nós.
Valentes e audazes, como se iludíssemos a morte,
a minha trupe continuava a lutar
enquanto os autocarros matavam os miúdos solitários.
Assim, sem nos darmos conta,
fomos perdendo tudo.
[Tradução de Francisco José Viegas]
NOTAS. «manhãs rosadas de Quilpué». Bolaño passou a sua infância em Valparaíso – foi em Quilpué que fez os seus primeiros estudos.
«vésperas do Mundial de 62» O campeonato mundial de futebol de 1962 realizaou-se no Chile e foi ganho pelo Brasil. Alguns dos jogos realizaram-se em Viña del Mar (no Estádio Sausalito), província de Valparaíso, não muito longe de Quilpué.
«Raúl Sánchez e Eladio Rojas». Eladio Rojas (1934-1991, médio, jogou no Everton (clube de Viña del Mar), no River Plate, da Argentina, e no Colo-Colo, de Santiago) e Raúl Sánchez (1933, defesa, jogador do Santiago Wanderers e do Colo-Colo), futebolistas chilenos.
Outro fado de Vasco Graça Moura cantado por Kátia Guerreiro, «Até ao Fim», que dá título ao seu álbum. A Puxar ao Sentimento foi lançado pela Quetzal na passada sexta-feira. Ora aqui está uma boa maneira de começar a semana – apesar da melancolia da canção –, recordando a poesia de Vasco Graça Moura.
No Times Literary Supplement (TLS) um belo artigo de David Streitfeld em redor das suas memórias de David Foster Wallace. Começa desta maneira: «Eu era o pior amigo de David Foster Wallace.»
David Foster Wallace na Quetzal: O Rei Pálido, Uma Coisa Supostamente Divertida Que Nunca Mais Vou Fazer, A Piada Infinita.
Ryan Adams, «Sylvia Plath»
[A POESIA LATINO-AMERICANA]
É horrível, cavalheiros. A vacuidade e o espanto.
Paisagem de formigas
No vazio. Mas no fundo, úteis.
Leiamos e contemplemos o seu fluir permanente:
Ali estão os poetas do México e da Argentina, do
Peru e da Colômbia, do Chile, Brasil
E Bolívia
Comprometidos com as suas parcelas de poder,
Em pé de guerra (permanentemente), dispostos a defender
Os seus castelos da investida do Nada
Ou dos jovens. Dispostos a pactuar, a ignorar,
A exercer a violência (verbal), a fazer desaparecer
Das antologias os elementos subversivos:
Alguns velhos fora de moda.
Uma atividade que é o fiel reflexo do nosso continente.
Pobres e débeis, são os nossos poetas
Quem melhor encenam essa contingência.
Pobres e débeis, nem europeus
Nem norteamericanos,
Pateticamente orgulhosos e pateticamente cultos
(Ainda que mais nos valeria aprender matemáticas ou mecânica,
mais nos valeria lavrar e semear! Mais nos valeria
fazer de maricas e de putas!)
Perus recheados de peidos dispostos a falar da morte
Em qualquer universidade, em qualquer balcão de bar.
Assim somos, vaidosos e lamentáveis,
Como a América Latina, estritamente hierárquicos, todos
Em linha, todos com as nossas obras completas
E um curso de inglês ou francês,
Fazendo fila nas portas
Do Desconhecido:
Um Prémio ou um pontapé
Nos nossos cus de cimento.
[Tradução de Francisco José Viegas]
[A MINHA CARREIRA LITERÁRIA]
Recusas de Anagrama, Grijalbo, Planeta, com toda a certeza
[também de Alfaguara,
Mondadori. Um não de Muchnik, Seix Barral, Destino...
[Todas as editoras... Todos os leitores...
Todos os gerentes de vendas...
Debaixo da ponte, enquanto chove, uma oportunidade de ouro para
[ver-me a mim mesmo:
Como uma serpente no Pólo Norte, mas escrevendo.
Escrevendo poesia nos país dos imbecis.
Escrevendo com o meu filho nos joelhos.
Escrevendo até que cai a noite
com um estrondo dos mil demónios.
Os demónios que hão de levar-me ao inferno,
mas escrevendo.
[Tradução de Francisco José Viegas]
De entre os fados de Vasco Graça Moura que pela primeira vez são publicados hoje, no livro A Puxar ao Sentimento, há três já cantados antes; este, «As Quatro Operações», é interpretado por Kátia Guerreiro com música de Tiago Bettencourt e Pedro de Castro. Um fado para a tarde de sexta-feira.
Yo La Tengo, «Friday I’m In Love» (original dos The Cure)
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