Diz que com a idade o querem “empurrar para o silêncio”, por isso, mais do que nunca, tem a preocupação constante e necessidade de escrever. V.S.Naipaul, o Prémio Nobel da Literatura em 2001, esteve em Óbidos na segunda edição do Fólio onde explicou que escreve para compreender o mundo que o rodeia. Esta é a reportagem de Maria João Costa para a Rádio Renascença.
Sentado numa cadeira de rodas, V.S.Naipaul mostrou ser um homem de poucas palavras, mas com muito humor. Aos 84 anos, o Prémio Nobel da Literatura não quis responder à pergunta do jornalista José Mário Silva sobre como é que via o mundo de hoje, mas o escritor de origem indiana preferiu explicar que com a sua escrita tenta “tornar o mundo mais simples” e ao mesmo tempo “perceber o que está a acontecer lá fora.”
Convidado pelo organização do Fólio, o Festival Literário de Óbidos, o autor de “A curva do Rio” fala da escrita como uma missão. “Sempre pensei que iria ser um escritor”, afirma Naipaul que decidiu começar a escrever aos 11 anos.
Não consegue “evitar” a arte da escrita e explica à plateia que comprou bilhete para o ouvir que “um dos grandes mistérios da escrita” é encontrar um tema. “Uma vez encontrado o tema, metade do trabalho está feito”, confessa o escritor que conclui que às vezes é esperar por “um milagre”.
Sempre com a mulher sentada na primeira fila a servir de ponto para o ajudar nas respostas e a esclarecer alguns detalhes, Naipaul fala da escrita como “um momento feliz” e “algo maior”. Contudo, admite “dor” e sofrimento quando confrontado por José Mário Silva com algumas ideias dos seus livros, nomeadamente sobre o colonialismo.
Com cerca de três dezenas de livros publicados, o escritor com cidadania britânica gosta que a sua escrita se divida entre a ficção e a não-ficção.
E hoje sente uma espécie de urgência em escrever. Quanto questionado sobre o facto de não publicar há algum tempo, o Nobel afirma que “mais do que nunca” quer escrever. Na fragilidade dos seus 84 anos diz: ”O que acontece com a idade é que somos empurrados para o silêncio. Muitos empurram-nos a não fazermos nada. Dizem que já tenho tudo ou já fiz tudo. Isso é errado e eu tento evitar isso. É continuar. É uma preocupação constante, a necessidade de escrever mais e mais...”
Em Portugal, a Quetzal acaba de editar “Um Estado Livre”, romance de 1971, com que venceu o Booker Prize.
Na conferência noite dentro explicou que “sempre” o culparam por escrever “sobre países imaginários” e admitiu que não gosta de escrever sobre “países reais” porque isso implica por “História e Geografia” nos livros para os tornar “reais” e esse exercício não lhe interessa.
Naipaul, que aceitou dar autógrafos no final da sessão, quis ainda responder a respostas do público. Aos que o ouviam explicou que anda a ler os clássicos, que “não deixa livros inacabados” porque se o fizesse “não seria um escritor” e acrescenta: “É assim que me defino – acabo livros”.
O autor de “Uma vida pela metade” explica que escreve “com muito cuidado e com grande preocupação pela palavra” e conclui que não escreve e rescreve “como alguns fazem ou dizem que fazem”.