«O conceito deste livro, Ferreira Fernandes foi buscá-lo a Georges Perec (“Je me Souviens”, 1978), que já o tinha colhido do americano Joe Brainard. A ideia é recuperar o passado através de flashes, pequenos fragmentos de prosa acesos por uma invocação (“Lembro-me Que…”) – ao mesmo tempo um trabalho da memória e um “exercício poético”. Recorrendo a este mecanismo narrativo, Ferreira Fernandes não enveredou pelas reminiscências pessoais (como Brainard) nem pelas impalpáveis nostalgias quotidianas (como Perec). O objetivo era outro: “Pretendo contar uma bela data de Portugal, o 25 de Abril de 1974, lembrando pequenos e menos pequenos instantes que imediatamente a antecederam.” Ou seja, episódios ocorridos num período de quase quatro meses, entre 1 de janeiro e o “grande dia”. Dez anos após a primeira edição (Oficina do Livro), “Lembro-me Que” volta em boa hora para nos mostrar como era Portugal em vésperas da grande mudança.»
José Mário Silva, Expresso