Excertos da entrevista que Reza Aslan concedeu à revista Sábado. O Zelota - A Vida e o Tempo de Jesus de Nazaré chega às livrarias a 7 de fevereiro.
Numa entrevista na Fox News, a jornalista perguntou-lhe repetidamente porque é que escreveu um livro sobre Jesus sendo muçulmano. Ficou surpreendido?
Não. Há uma grande parcialidade antimuçulmana nos Estados Unidos e a Fox News é o primeiro exemplo disso. Transformam o sentimento antimuçulmano em milhões de dólares de lucro. São uma organização noticiosa tendenciosa e preconceituosa contra os muçulmanos e os estrangeiros em geral. Sabia que ia ser atacado. O que não sabia era que a entrevista toda ia ser sobre o meu direito de escrever este livro.
Já foi discriminado? Sente reacções agressivas?
Qualquer muçulmano na América tem histórias de discriminação. Eu não sou excepção: ter um escrutínio extra no aeroporto, ter longos olhares de lado no metro. Neste caso, não estou a ser atacado pelos cristãos, estou a ser atacado por grupos de direita. As pessoas que me enviam a mim e à minha família ameaças de morte são fanáticos de direita, ameaçados pela noção de um Jesus revolucionário que combateu os ricos e poderosos, porque muitas destas pessoas, que alegam ser porta-vozes de Jesus, são eles próprios ricos e poderosos.
Estuda Jesus há mais de 20 anos. É uma obsessão?
Admito que sim, mas acho que toda a gente a devia ter. Estamos a falar de um camponês pobre e iletrado, da Galileia rural, que começou um movimento em favor dos rejeitados e marginalizados, que foi uma tal ameaça para os poderes políticos e religiosos do seu tempo que foi preso, torturado e executado.
Diz que Jesus era um revolucionário, não um pacifista: queria expulsar os romanos e instalar um estado teológico.
Essa é a função do Messias. Se ele se intitulava o Messias, o que queria dizer é que era o descendente do rei David, que tinha vindo para estabelecer o trono de David na terra. É tão simples quanto isso. Ou nunca pensou que era o Messias; ou pensou e a sua tarefa era remover a ocupação romana. É isso que é suposto o Messias fazer.
Quais são as diferenças que encontrou entre o Jesus divino e o Jesus humano?
A maior parte dos cristãos pensa que Jesus não tinha ambições políticas ou terrenas, que foi um pacifista de boas acções. O que não percebem é que no tempo de Jesus religião e política eram a mesma coisa.
Então não era um pacifista?
Não há prova de que Jesus defendesse abertamente a violência, mas este é o homem que disse que não vinha para trazer paz à terra mas a espada; que ordenou aos seus homens que se armassem antes de se esconderem das autoridades; que foi crucificado pelo crime de traição contra o Estado. A ideia de que era apenas um pregador tranquilo não se ajusta à história daquele tempo. A visão de Jesus que muitos cristãos têm é uma que Roma teria ignorado.
Entrevista completa à Sábado aqui.