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Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.
Jorge Luis Borges, Jennifer Egan, W. G. Sebald, Rodrigo Lacerda, Helena Vasconcelos, Roberto Bolaño, José Luís Peixoto, J. Rentes de Carvalho, Guillermo Cabrera Infante, Thomas McGuane, Patrícia Melo, Saul Bellow, Ali Smith, Paul Theroux, J. D. Salinger, Manuel Jorge Marmelo, V. S. Naipaul, Martin Amis e...
"A análise de Vitorino Magalhães Godinho é de uma actualidade única. Lê-lo é uma forma de não só se aprender história como também de entender a sociedade como um todo, como uma colmeia onde todos acabam por interagir e ninguém está isento do que sucede noutras latitudes ou longitudes. (...) A análise que Maglhães Godinho nos legou não é melancólica. É clarividente, porque deixa pistas para perceber o futuro com base nos ensinamentos do passado. É um legado notável."
Fernando Sobral, Jornal de Negócios
Para o autor, Paulo Freixinho, este livro é um sonho tornado realidade. Os "viciados" em palavras cruzadas concordarão.
"Interagiu com a assistência do primeiro ao último minuto, falou sem rodeios sobre todos os temas, literários e não só, e até se recusou a ficar sentado na maior parte do tempo. Foi assim que J. Rentes de Carvalho se apresentou na segunda sessão do ciclo Porto de Encontro, no passado sábado."
Ler mais aqui.
"Não é dífícil perceber por que razão "Pornopopeia" tem deixado atrás de si um rastro de elogios desbragados: a menos que não se tenha um pingo de humor e um resquício que seja de imoralidade, é impossível não apreciar o anti-herói deste épico e a suruba (ou, portuguesmente, orgia) de prazer que é o trabalho de linguagem do autor, o brasileiro Reinaldo Moraes. Isto é o óbvio e o que toda a gente, de São Paulo a Londres, tem realçado. Mas "Pornopopeia" é, felizmente, mais do que um festival de sacanagem com língua delirante."
João Bonifácio, Ípsilon
Em janeiro, Reinaldo Moraes estará em Lisboa e fará uma apresentação do livro na Fnac do Chiado.
"Exemplar na arte da observação, o poeta recolhe acasos e gestos, pequenas epifanias, histórias breves, o trabalho da melancolia. Uma melancolia que ganha terreno na terceira fase, a dos últimos livros, muito atentos aos rituais quotidianos, aos estragos que a rotina provoca nos corpos e nos espaços domésticos, ao confronto com a ideia da morte e da perda. Por muito que J.L.B.G., médico de profissão, afirme que a poesia é uma "doença" que não se deseja a ninguém, a verdade é que ele só sabe escrever "de dentro da vida" e faz sempre da vida (e da escrita) uma celebração."
José Mário Silva, Expresso
"No total são nove contos, passados ao papel numa escrita rápida, nos quais o humor espreita a cada frase e a elegância impera, mesmo se as personagens se encontram, maioritariamente, em maus lençóis. (...) O surreal, se não o surrealismo, ronda por aqui, os diálogos são ótimos, e o conhecimento dos homens demosntrado por Wells Tower na caracterização das personagens é irrepreensível."
Ana Cristina Leonardo, Expresso
Aqui fica o texto do vencedor do passatempo Uma Mentira Mil Vezes Repetida. Será este leitor, Nuno Casimiro, a apresentar logo à tarde, no Auditório Municipal Sophia de Mello Breyner, em Vila Nova de Gaia, o romance de Manuel Jorge Marmelo:
"Uma mentira mil vezes repetida é uma singular homenagem aos que sofrem do mal da leitura e aos que para isso contribuem escrevendo histórias. Por isso espreitam entre as suas páginas Vila Matas, Cortázar, Borges, Calvino, Pessoa e todos os outros, mas, ao contrário do que acontece com tantas obras sobre a desgraça de escrever-ler (não há uma sem outra), este romance ocupa-se de um tempo real e preciso, por muito que sejam ilusórias as geografias e inventados os nomes. O discurso sobre o logro é enfim um tratado sobre o real tão mal inventado em que nos movemos: a reflexão sobre o mal, a história, os transportes públicos e a sociedade é tão mais pertinente quanto todo o tom da narrativa parece ser o da incapacidade de levar algo até ao fim contando verdades ou, pelo menos, criando uma mentira coerente e completa.
Aqui, para lá de se manipular a matrioska da meta-literatura, expõe-se o logro em que vivemos e, talvez por essa razão, o pobre narrador vê-se desconcertado no momento de desarmar a trama, voltando a enlear-se, mas desta vez acompanhado.
E, para não escapar ao tom livresco, há ainda uma dose notável do autor e suas desgraças: nesta persistência em personagens que são de algum modo derrotados pela literatura, em tipos que não chegaram sequer a ser falhados, em gente que vive na mesquinhez a que nos condenaram. Isto é, o romance é também muito marmeliano na medida em que o próprio escritor é um tipo recluso numa cidade-país incrível mas perdida numa espiral demente de má gestão e má cidadania, com 20 livros publicados mas que, até este último romance, parecia não justificar recensão crítica em lado algum, arrumado para a beirinha de vários pratos e que, a cada duas por três, parece querer baixar publicamente os braços.
Ainda bem que não o fez e nos ofereceu um livro magistral."
5 de Dezembro - 18h30 - Fnac Colombo - Apresentação
6 de Dezembro - 18h30 - Fnac Vasco da Gama - Autógrafos
7 de Dezembro - 21h30 - Fnac Coimbra - Apresentação
8 de Dezembro - 15h - Fnac Alfragide - Autógrafos
8 de Dezembro - 18h30- Fnac Chiado - Apresentação
9 de Dezembro - 18h30 - Fnac Guia/Algarve - Apresentação
11 de Dezembro - 18h30 - Fnac Cascais - Apresentação
15 de Dezembro - 18h30 - Fnac Braga - Apresentação
16 de Dezembro - 21h30 - Fnac Gaia - Apresentação
17 de Dezembro - 18h30 - Fnac Santa Catarina - Autógrafos
17 de Dezembro - 22h 00 - Fnac Norte Shopping - Apresentação
18 de Dezembro - 18h30 - Fnac Guimarães - Apresentação
Texto do poeta e tradutor Vasco Graça Moura para a apresentação do livro Poesia Reunida, de João Luís Barreto Guimarães. Agradecemos ao autor a autorização para divulgação do texto:
De 1989 a 1994, a poesia publicada em livro por João Luís Barreto Guimarães segue um modelo formal muito estrito. O do soneto. Não se veja nisso um cultivar de velharias de museu literário– o soneto é uma forma venerável com mais de 700 anos – mas uma procura de inovação que, do soneto tradicional, mantém quase sempre a arrumação de cada peça em duas quadras e dois tercetos, não necessariamente por esta ordem. Pelo contrário, alternando a sequência de caso para caso, o autor procura uma elasticidade total no permutar da ordenação estrófica, a que vai correspondendo uma escrita poemática que se afasta por completo da métrica e da prosódia tradicionais, apostando quase sempre em versos longos com enjambements e partições mais ou menos arbitrários, aproximando-se da prosa, mas sem resvalar nela, como propunha Eugénio Montale. Mais tarde, vem uma pergunta nesse sentido: «que te ensinaria eu se / me falasses do Tratado de Tordesilhas / entre prosa e verso?»
Podemos assinalar nesses primeiros textos, uma espécie de poética ziguezagueante sobre o real, procurando cruzar fronteiras e provocar intercepções de planos, convocando segmentos e fragmentos muito diversos, sem recuar ante os desafios de uma experimentação ousada. É uma poesia cerebral, pensada a frio até nas suas próprias ingenuidades, com vista a produzir certos efeitos, recorrendo a símbolos e signos gráficos por vezes com alguma carga enigmática ou enunciado fonético quase impossível, feita sobre ironias e humores quotidianos, interpelando um «tu» que tanto pode ser o próprio autor no espelho da sua escrita, como alguém exterior a ele, lançando mão de uma linguagem em que o poema aprende a referir-se ao, e a reflectir sobre, o próprio poema na sua relação com o tempo e o espaço e nas suas implicações com o mundo.
Logo a abrir, lemos que «o tempo avança por sílabas», bela maneira de caracterizar o poema como arte medida do tempo e da palavra, ou da palavra no tempo. Noutro texto, fala-se em «perder o lugar das coisas / ganhar o silêncio do sítio por elas desocupado», por sinal pouco antes de se dizer «esqueço por isso a pergunta: qual a regra do acaso?». Octavio Paz, chamava à poesia «hija del azar, fruto del cálculo». A pergunta sobre qual a regra do acaso é, a meu ver, um elemento importante para compreender a poética do primeiro João Luís Barreto Guimarães: procurar uma regra, isto é uma necessidade, uma regularidade, uma lei, no plano do próprio acaso, dos impulsos mais ou menos desencontrados ou desorganizados que o mundo faz reverberar na sua palavra. Talvez por isso, uma voz diz, mais adiante «ainda não entendi bem a tua forma de escrever» e também: «porque escreves / na primeira pessoa? Quantos mitos inventaste até ontem?».
Este tipo de questões, prolonga-se pela metáfora implícita do gravador tanto associado aos verbos — e a categoria dos verbos está normalmente conotada com a noção de acção — como a uma manipulação da palavra e dos seus processos, quando o tempo desses verbos é «um rio de águas lestas / play rewind fast forward pause record stop eject». Trata-se portanto de um processo que pode ser executado, recapitulado, acelerado, desacelerado, interrompido, retomado, terminado. É desse processo que resulta o poema.
Há assim em João Luís Barreto Guimarães uma preocupação reiterada com a dimensão metapoética, com a reflexão sobre o poema, os seus limites, os seus recursos, a possibilidade de questionamento dos seus objectivos.
Há mesmo uma pergunta sobre «quanto falta para / a perfeição?». E ocorre uma oscilação, uma certa pendularidade, entre a questão da perfeição e a da procura, tal como o autor a enuncia: «a procura / é parte integrante do poema não pode ser / vendida separadamente». Estas questões também se implicam na existência e nas suas ácidas ironias em jeito coloquial, como nestes versos cuja interpelação me faz lembrar o célebre «Olha, Daisy» de Álvaro de Campos:
sabes? minha amiga: esta vida é como um barco
a boiar (tem o seu quê de técnica). como ? não
apanhaste a ideia? finges (penso) apenas finges.
e há quem diga: estas águas são o atlântico.
Depois de Há Violinos na Tribo, em que cada uma das partes, «lado um», manual do engano e «face b», as pistas, tem catorze peças, numa significativa preocupação com a estrutura em sonetos, no segundo livro, com o título propositadamente absurdo de Rua Trinta e Um de Fevereiro, os textos tornam-se mais ambiciosamente metafísicos e também mais coesos e o sistema de alusões culturais e científicas é mais explícito, embora aqui e ali haja ainda reincidências na quase indecifrabilidade de certos códigos de letras e números, ou num certo ludismo experimental ou gráfico. Pelo menos num caso, a chave é fornecida numa espécie de nota de rodapé que permite ler o segredo dos sétimo e oitavo versos do soneto (p. 64): ÀS DUAS NO CAFÉ. A SENHA É GATO AZUL... A reflexão sobre os limites do poema e do soneto é processada dentro de coordenadas mais precisas. As respostas às questões tornam-se aparentemente mais claras, dispensando o sentido oculto das coisas:
[...] eis que tudo
quanto é sonho se torna real tudo quanto é
temporal ocorre agora dissipando eventuais
porquês perante a real forma das coisas
No terceiro ciclo de sonetos, Este lado para cima, vale a pena destacar a continuidade de uma certa fascinação com o registo sonoro, que já tinha dado antes as alusões aos processos do gravador. Aqui, a questão metapoética combina-se logo a abrir como o símile do disco estragado e do poema como qualquer coisa que se liga como um aparelho, num texto que assim é capaz de restituir uma avaria com toda a precisão e que me parece de uma segurança, de uma eficácia, de uma ironia fora do comum. Vale a pena citá-lo na íntegra, porque ele não apenas questiona a natureza do poema, mas também entra na questão daquilo que o poema diz e da carga de informação que pode (ou não) conter:
põe um disco a correr. a chuva não demora
mais que o esvaziar das nuvens se te
confessasse as coisas que já atirei ao mar
(o revólver do crime palavras numa garrafa)
não darei nome ao poema seria como quem
coloca legendas aos dias e eu: sou como
água (tomando forma nos lugares que molha)
vou repetir (para quem só agora ligou
este poema:) no cesto de frutos da mãe
as estações do ano sucedem-se e o disco
era um disco tão antigo tão antigo que
a certa alturantigo tão antigo que a
certa alturantigo tão antigo que a certa
alturaantigo tão antigo qu
Uma equivalência a esta situação de avaria, quando ela não é do disco, pode ser a da máquina de escrever, uma «Corona Four / uma azerty americana», que interfere na mensagem e a desfigura parcialmente por as teclas já não comandarem todas as letras, tornando necessário um exercício de restituição: «depois eu mando alguém / uscar as minhas palavras».
Os sonetos de João Luís Barreto Guimarães funcionam assim como pequenos aparelhos de interrogação e reconstrução do real, a partir da simulação das suas próprias falhas. São peças literárias entre o cerebral e o lúdico, em registos em que predominam as intenções de vanguarda, deixando pouco espaço para a emoção. Há também um lado de «instalação» em várias destes poemas. E é exactamente nessa medida que me ocorre um texto de Jacques Roubaud, que passo a traduzir:
— Um soneto é um objecto de arte? — Cada vez mais,
— Pensas o soneto como uma instalação
De letras e de brancos? — Sem dúvida. A emoção
Está na apresentação sobre a página lida
Em memória. — Um soneto seria emocional?
— Sim. As suas divisões impõem-no. Mas nenhum verso
Tem emoção.
O tempo de que disponho não me permite deter-me muito nalgumas partes desta Poesia Reunida. Saltarei por isso os poemas em prosa de Lugares Comuns e farei uma brevíssima abordagem de alguns aspectos da poesia de Rés-do-chão (2003), Luz Última (2006) e A Parte pelo Todo (2009).
Rés do Chão é um livro que deixa os sonetos para trás e explora, num registo muito sóbrio, o quotidiano de uma conjugalidade doméstica. O metro torna-se mais curto, chegando a extremos mono e dissilábicos, como em «Não gosto que faças isso» (p. 180). A versão de situações aparentemente anódinas da vida de todos os dias, por vezes, entreabre-se para significações que são da ordem do simbólico: «Ateámos a lareira com / as notícias da véspera / devolvemos à verdade sua condição de cinza». À sua maneira, e já muito distante da experiência sonetística, esta é uma poesia do amor e da pax domestica, da quietude e tranquilidade do lar e das pequenas observações e meditações sugestivas, a propósito de tudo e de nada, como esta, sobre o puxador (avariado) da porta da cozinha, mostrando mais uma vez a utilidade da noção de avaria para a poética do autor:
Como não estranhar a absurda
ausência da avaria?
Deixa-o
ficar assim. Deixa-o andar assim
(ternamente avariado)
A problemática da metapoesia e das questões do poema, surge com menos frequência, embora ecoe ainda aqui e ali, por exemplo em «Escrevendo Pétalas sobre a cabeça» em que o poema reflecte sobre o poema anterior e onde se observa que ele «insistiu em fazer-se / ( de tradição e ofício)». Não sendo esta uma poesia propriamente musical no sentido tradicional deste adjectivo, note-se que a dicção se torna muito mais segura e nítida, encontrando uma respiração própria, as inflexões, as cadências e os ritmos mais ajustados, tudo quase sempre servido por uma elementaridade ou por uma simplicidade que torna ainda mais eficazes alguns jogos dentro do verso (p. 227; outro caso «A uma jovem rapariga», p. 242. E ainda a p 248, em que os versos irregulares ganham uma cadência quase regular de redondilha...[ler das duas maneiras])
O sistema de referências enriquece-se por associações inesperadas, mas plausíveis, como a forte sugestão visual por que são implicitamente comparadas as manchas resultantes da perda de óleo do motor do automóvel sobre o cimento a um quadro de Pollock com laivos de Gracinda Candeias, a relação entre elas e o modus operandi do poema.
O quotidiano amplia-se à evocação e ao trabalho de luto pela morte do pai. Há uma dimensão de memória e identidade recuperada e explorada a partir de dessa figura. Fica-nos, desses textos da última parte do livro, a imagem do pai e um recuar da presença de Deus; a passagem por lugares e paisagens e, last but not least, a própria experiência da prática clínica, dando ensejo a uma das mais belas meditações sobre o tempo, o envelhecimento e a perda da beleza feminina da nossa poesia mais recente, com a subtil paronímia do final «dano a dano» (a escala crescente dos danos) subentendendo-se «de ano a ano» em vez de de década a década: Botox (p. 298).
São também dadas algumas respostas (ou que podem ser tomadas como tal) a questões de identidade postas na primeira fase do autor. Por um lado, o interlocutor possível é convocado (convidado) no poema final, com indicações descritivas para o caminho até ao lugar de acolhimento, a casa do próprio poeta, o lugar onde ele está, mas acontecendo que qualquer encontro possível é deixado ao critério do visitante possível:
Toca no sexto direito. Estou
sempre por aqui. Ou senão
não venhas hoje.
Faz como te apetecer.
Por outro lado, sabemos finalmente quem pode ser o tu que os sonetos interpelavam.
O nome que tu transportas é o nome
onde és tudo. O nome: és
tu que o és. Em teu nome
tu és tu.
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