«A minha mãe fez uma viagem pela Grécia quando era muito nova. No sul do Peloponeso viu uma encenação de Medeia num anfiteatro. A experiência comoveu-a profundamente porque, quando Medeia está prestes a matar os seus filhos, algums pessoas do público começaram a gritar: "Não os mates, Medeia!" "Estas pessoas não percebiam que estavam a ver uma obra de arte - disse-me ela muitas vezes -, era tudo real."
Estes diários são, também, reais. E ao lê-los tenho sobremaneira a ansiedade de estar a reagir como aqueles espectadores gregos de meados de 1950. Quero gritar, "não faças isso", ou "não sejas tão exigente contigo própria", ou "não te aches tão importante", ou "tem cuidado com ela, ela não te ama". Mas, obviamente, é tarde demais: a peça já foi representada e a sua protagonista está morta, tal como muitas das outras personagens, embora não todas.»
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David Rieff, filho de Susan Sontag, no prefácio de Renascer - Diários e Apontamentos 1947-1963, que editou.