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Quetzal

Na companhia dos livros. O blog da Quetzal Editores.

«O pai do pequeno Tukie estava a viver a própria história que contava ao filho, uma história aumentada a cada pergunta que respondia. Aumentada já bem para a além do que tinha visto na série de antes do campeonato do mundo de futebol de Espanha, muitos anos antes. A certa altura, estava tão envolvido que pensou no que poderia implicar ter ali um perigoso imperador intergalático mais o seu exército. O melhor era prevenir. Cortar o mal pela raiz. Esmagar a nave espacial com o imperador e o exército lá dentro enquanto fosse tempo.

 

Foi ao pensar nisso, muito concentrado, que fez um movimento com a perna direita, levantando-a um pouco, devagar, bem por cima daquele perigo que tinha tomado conta da soleira da porta. Ia baixar a perna, com toda a força concentrada no pé, quando foi colocado de volta à realidade por um grito do filho:

 

- Pai, não faças mal à borboleta do imperador Ming!»

 

De O Sorriso Enigmático do Javali, de António Manuel Venda.

 

O lançamento do livro é já na quinta-feira, às 18h30, na Livraria Bertrand do Chiado, com apresentação de Luis Carmelo

«O pequeno Tukie e o pai observaram tudo em silêncio, e ficaram assim durante uns minutos, com a cobra a tentar libertar-se do seu próprio nó. Nenhum dos dois fez um gesto para ajudá-la, mas também nenhum dos dois fez um gesto para ajudá-la, mas também nenhum dos dois fez um gesto para atacá-la. Sabiam que aquela cobra não se ia salvar. Quando os movimentos se reduziram para algo que não era mais do que o lento tremor, o pai do pequeno Tukie aproximou-se do estendal, já a sentir o cheiro a carne queimada. Viu logo os pequenos olhos da cobra, e neles percebia-se bem a falta de luz que antes irradiavam. Mas não estavam parados, mexiam-se, para um lado e para o outro, devagar, como se procurassem qualquer coisa que pudesse valer à dona. A língua, pelo contrário, estava parada, saída da boca, como se já não tivesse vida. Aquela cobra, deu o pai do pequeno Tukie por si a pensar, começava a morrer pela língua. O que lhe morreria a seguir

 

De O Sorriso Enigmático do Javali, de António Manuel Venda.

 

O lançamento do livro é já na quinta-feira, às 18h30, na Livraria Bertrand do Chiado, com apresentação de Luis Carmelo.

Alexandra Lucas Coelho pergunta, Luiz Ruffato responde (hoje no Ípsilon):

 

«Você tem um projecto de escrita para preencher um vazio que sentia na literatura brasileira: o operário, o trabalhador urbano.

A minha mãe era analfabeta, o meu pai semi-analfabeto. Eu apenas pensei na possibilidade de escrever quando na faculdade de Juiz de Fora [Minas Gerais] fui fazer o curso de jornalismo. Mas decorreram mais de 15 anos, porque tinha de preencher lacunas da minha formação. Como a minha família toda era de operários, e eu trabalhei como operário, pensei em escrever sobre isso, um projecto em que o trabalhador urbano fosse a personagem principal. Mas eu achava que seria estranho escrever sobre o proletariado usando a forma do romance burguês. Então tentei mapear ao longo da história os escritores anti-romance. Começa no século XVIII com o [Laurence] Sterne, oTristam Shandy, passa pelo Machado de Assis, pelo próprio Almeida Garrett, pela literatura de vanguarda francesa, por Joyce. Tentei pegar carona nessa anti-romance. Foram 15 anos construindo uma ideia de romance, de personagem.»

Aparição é um dos dez romances mais representativos da língua portuguesa eleito pelo Imprensa da Universidade de Coimbra. Segundo a Lusa, vários docentes da Universidade de Coimbra e João Tordo e José Luís Peixoto escolheram ontem «10 Paixões em Forma de Roma. A notícia pode ser lida na íntegra aqui.

 

 

A primeira parte do episódio da série «Grandes Livros» dedicado a Aparição.

E quantas vezes, sem ser quando se anuncia o Prémio Nobel, a literatura tem lugar nas primeiras páginas e capas dos jornais generalistas? Literatura, não livros, num sentido genérico. E portuguesa. É raro, mas acontece. Hoje, a propósito da publicação dos inéditos de Vergílio Ferreira pela Quetzal. A Visão traz em quatro páginas um artigo de Sílvia Souto Cunha sobre a obra de Vergílio Ferreira que tem vindo a ser publicada e reeditada pela Quetzal. Vale a pena ler o texto, mais do que a chamada de capa.

 

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.

 

Um dos poemas mais lidos de José Luís Peixoto. É do livro A Criança em Ruínas.

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