«Há quem acredite em Ulm?, perguntava Céline durante a sua fuga através da Alemanha devastada. Interrogava-se, caústico e trocista, se Ulm existia ainda ou se os bombardeamentos a tinham destruído. Quando a realidade é anulada pela violência, pensá-la torna-se um acto de fé. Mas toda a realidade, a cada instante, é anulada, ainda que por felicidade nem sempre por meio da sangrenta cena das bombas de fósforo, mas antes por imperceptíveis traços, e não podemos fazer outra coisa senão acreditar que ela existe. Uma fé, vivida e mergulhada nos gestos do corpo, confere-nos a tranquila certeza vital que nos permite atravessar o mundo sem que o coração se perturbe.»
De Danúbio, de Claudio Magris.