«Ela queria dizer à Mamã que este não prestava. Tal como o outro lá em Mobile. Ou aquele sacana em Jacksonville. Mas a mam\ae dela estava a pintar os olhos diante do espelho e a dizer-lhe para ela estar calada e ir ver se as venezianas estavam todas fechadas porque nessa noite parecia que ia haver tempestade vinda de nordeste.
A menina foi à janela e olhou lá para fora. Tudo estava calmo. O disco brilhante da lua emitia para o interior do apartamento uma luz azulada, somente quebrada pelos ramos do velho carvalho seco. no pátio exterior; a criarem agitadas sombras varicosas que se espalhavam pelas paredes, obscuras e vitais. Estendendo a mão de modo a alcançar o fecho para prender uma das portadas de madeira, e lembrando-se das ocasiões anteriores em que magoara os dedos a fazer isso, ela retirou estrategicamente a mão para trás, pensando naquilo como um rato esperto que roubasse queijo de uma ratoeira. Depois observou a vaga intensidade da sua mãe no reflexo do espelho. Ela costumava gostar de ver a mãe a arranjar-se, a pôr-se toda bonita, daquele esforço de concentração que ela fazia para escurecer as grandes pestanas com aquela escova pequenina.»
Os primeiros dois parágros de Crime, de Irvine Welsh. Já nas livrarias.