«Magro, às vezes com óculos de aros finos, um cigarro quase sempre presente, feições vincadas conferindo idade a um rosto que podia ser o de um miúdo, Donald Ray Pollock quis para si uma vida nova ao recusar ver-se como o pai na velhice, horas seguidas num sofá em frente ao televisor. A projecção do seu futuro provável incomodou-o. Aos 50 anos, e após 33 a trabalhar como operário numa fábrica de papel, despediu-se. “Talvez fosse a tal crise de meia-idade”, brinca, sem nunca se alongar nas palavras, carregadas do mesmo silêncio que as suas personagens usam nos momentos decisivos – um silêncio que ele encontrou antes da literatura mas que a torna tão eficaz quando, por exemplo, o escritor, qualquer escritor, sabe entrar em casas de gente sem livros e fazer delas a sua matéria.»
Isabel Lucas sobre Donald Ray Pollock, autor de Sempre o Diabo, no Ípsilon