Um rapazinho vai, num acto de rebeldia, morar para cima das árvores. E depois? Quanto tempo pode isto durar? Que interesse pode ter? Fiz estas perguntas a mim próprio quando iniciei a leitura de O Barão Trepador, o enorme romance que Italo Calvino terminou de escrever em 1957 e cuja edição portuguesa anda por aí a ser vendida a preço de saldo. Cosimo Piovasco de Rondó, Barão de Ombrosa, depressa me conquistou, porém: perseverou em ficar em cima das árvores toda a vida, ali vivendo sem jamais pôr um pé no chão e sem deixar, ainda assim, de desempenhar um papel decisivo nos acontecimentos do seu tempo. Magistral alegoria, admiravelmente escrita e desenvolvida, O Barão Trepador parece demonstrar que só um indivíduo destrambelhado que vive no mundo da lua, ou no das árvores, pode alimentar a utopia de criar, enfim, uma república de cidadãos livres e justos.
É a sugestão de leitura de Manuel Jorge Marmelo, hoje. Mais sobre O Barão Trepador pelo autor de As Sereias do Mindelo aqui.